O conceito de “Até que a morte os separe” vem cada vez mais sendo substituído por “Até quando durar”. É claro que ao casar ninguém está pensando em separação e os votos são de que a união seja, de fato, eterna. Porém, na prática, às vezes seguir caminhos separados é o melhor a se fazer.
Segundo dados do IBGE, a taxa de divórcios no Brasil cresceu cerca de 160% de 2010 a 2017, a maior nos últimos 26 anos. Mas antes que se pense que é porque os casamentos estão durando pouco, na verdade é uma questão de proporção: um dos principais fatores é o fato de que o número de casamentos cresceu, portanto o de divórcios também. O judiciário que facilita A questão judiciária também contribuiu para a pesquisa, já que no passado o processo de separação poderia levar muito tempo (anos) e ser dispendioso e, atualmente, mudanças na legislação têm permitido que ele seja mais rápido e barato. Na prática, muitos casais que entraram nesta estatística já estavam separados, mas não oficializavam o divórcio justamente por conta de desinformação e/ou burocracia. A mudança de leis vem contribuindo para uma mudança na mentalidade social também: o IBGE mostrou que a maioria dos divórcios em caso de haver filhos envolvidos, quando estes ainda são pequenos, o casal vem escolhendo a opção de guarda compartilhada, que passou a ser mais divulgada a partir de 2008. Antes, era esperado que o filho ficasse com a mulher exclusivamente, e havia inclusive uma pressão social para que ela o fizesse, pois era o esperado. Com a mulher cada vez mais envolvida com a sua carreira e ganhando mais espaço no mercado de trabalho, a procura pela guarda compartilhada aumentou. Separação sim, mas não do amor Apesar das explicações e dados, é interessante refletir do ponto de vista amoroso o que pensamos sobre o casamento. O casamento por séculos foi uma questão de interesses, política e social; as pessoas se casavam por convenção e era normal que algumas famílias estabelecessem com quem os filhos iriam se casar desde quando estes ainda eram pequenos. Aliás, em alguns países mais conservadores e onde a cultura e religião são mais fortes, podemos ainda encontrar essa linha de pensamento. Neste contexto histórico, a ideia que temos do amor romântico é recente, e os conceitos que temos para construir a relação hoje em dia (companheirismo, paixão, respeito, etc) não se encaixam no modelo e propósitos para os quais a instituição foi criada. Parte pela imaginação e parte pelas qualidades que procuramos em um/a parceiro, a verdade é que o resultado cria um dilema com a realidade, sem contar que hoje em dia nossa expectativa de vida é muito maior do que no passado, portanto dividimos muito mais tempo com um/a companheiro/a. A terapeuta Esther Perel destacou para o jornal britânico The Independent que “Agora queremos que a outra pessoa seja o nosso melhor amigo e confidente, um amante eternamente apaixonado - com o "problema" de vivermos o dobro do tempo”. Como resolver essa questão então? Ela conclui que consciência e independência devem caminhar juntas, já que o casal deve compreender o papel que cada um tem dentro da relação, mas também devem procurar a felicidade fora do relacionamento, a fim de não sobrecarrega-lo com excessiva pressão. Mas e quando a relação chega ao fim mesmo assim? Bem, isso não significa que a lição não possa ser carregada para o próximo relacionamento. De fato, os tempos definitivamente são outros, e apesar de a taxa de divórcio poder passar a impressão de que as pessoas estão com relacionamentos menos duradouros, no que se diz respeito ao brasileiro, este é um apaixonado e não desiste do amor e nem mesmo da felicidade dentro de uma relação sólida. Segundo a psicóloga Roseli Kunrich, em depoimento ao portal Gospel Prime, “Apesar do alto índice de divórcios, as pessoas seguem acreditando na instituição do casamento. Em parte, ela atribui as dissoluções a expectativas irreais e uma visão idealizada de romance, muito influenciada pelo cinema e a TV”. A tecnologia é o novo cupido Ainda que exista muita idealização do relacionamento ideal por parte da modernidade dos nossos tempos, pelo que a mídia mostra e pelas expectativas criadas, ao mesmo tempo a própria atualidade apresenta novos modelos de interação na procura de pretendentes. A internet é um exemplo disso, já que tem sido uma grande aliada na hora da paquera devido à popularidade ascendente de sites de relacionamento no país. Atualmente, 60% dos brasileiros utilizam sites e aplicativos de namoro como o Badoo para conhecer novas pessoas. Ainda que para 71% a intenção seja apenas a de fazer amigos, 45% estão à procura de relacionamentos casuais e 40% estão à procura de relacionamentos sérios. Os brasileiros não estão apenas mais abertos a novas formas de encontrar parceiros como também estão falando mais sobre o assunto; foi-se o tempo em que dizer que conheceu a alma gêmea pela internet era tabu. Ao invés do antigo estranhamento que seria muito comum há 10 anos atrás, por exemplo – acompanhado de muita desconfiança -, hoje em dia as pessoas têm cada vez mais visto a tecnologia como uma aliada para sair da zona de conforto e conhecer novas pessoas. Para sermos mais exatos, 7 em cada 10 brasileiros acredita que esse método é a tendência ideal. Outra razão para tal é que, mesmo depois de firmar um relacionamento, o brasileiro tem se comunicado muito mais com seu/sua parceiro/a a distância (telefone, whatsapp, etc) do que presencialmente; é uma forma prática e adequada ao cotidiano, portanto torna-se natural para ele se sentir mais a vontade com a ideia de conversar online com possíveis paqueras. Ainda assim, isso não significa que alguns padrões tradicionais não sejam levados a sério: 70% dos brasileiros acreditam que trocar mensagens de conteúdo picante e fotos sensuais é tão grave quanto uma traição de fato. Modernidade e tecnologia para paquerar sim, mas quando o assunto é infidelidade nós voltamos a valores já bem conhecidos. Aguardemos as próximas estatísticas do IBGE. |
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Fonte: Click Paraná |