Unidade é precursora na utilização da arte para resolução de discordâncias. O projeto promete tornar a resolução desses impasses mais ágil e acessível
Cartórios costumam ser ambientes sérios, com pilhas de papéis à mostra, filas cansativas e, muitas vezes, pessoas aflitas à espera de decisões importantes. Para mudar esse cenário, um cartório de Brasília resolveu fazer diferente e planejou um espaço moderno e inovador para ajudar na resolução de enfrentamentos que passariam anos à espera de uma solução na Justiça.
Os envolvidos em conflitos como divórcio, brigas entre vizinhos, discussões de trânsito e até cobranças se deparam com um ambiente diferente dos cartórios tradicionais. Assim que sobem a escada do local, as pessoas esbarram com palavras positivas, como respeito, compreensão e empatia. Depois disso, a exposição Perspectivas, idealizada pelas artistas Marina Marinho e Paola Sabino, acolhe os participantes da conciliação e os convida a enxergar um mesmo objeto a partir de várias perspectivas.
O oficial titular do cartório, Marcos Vinícius Porto, 33 anos, conta que o local em que trabalha é precursor no uso da arte para a condução de solução de conflitos. “Não é possível fazer uma mediação moderna sem um ambiente transformador. A mediação transformativa, nova forma de solucionar conflitos em um ambiente personalizado, é uma proposta a ser testada e, por isso, somos uma espécie de laboratório”, diz.
Arte que faz refletir
“Nossa ideia é mostrar a pluralidade de opiniões e as diversas perspectivas existentes entre diferentes pessoas. Então, a pretensão é instigar no espectador, que passará por um momento tenso, a reflexão e a paciência”, explica a arquiteta do cartório, Marina Marinho, 27 anos.
Já no corredor, que liga o hall à sala de mediação principal, duas antessalas do mesmo tamanho e decoradas com cores claras e poltronas confortáveis são reservadas para ambas as partes envolvidas na mediação. No fim do corredor, está a sala principal, onde o oficial do cartório finalmente media os casos de divergência e tenta desenvolver um debate agradável para encontrar a melhor alternativa para os dois lados.
Primeiro caso de sucesso
Em 2016, o ambiente planejado pelas também arquitetas Marina Marinho e Paola Sabino contou com o primeiro caso de mediação envolvendo um cartório do Distrito Federal. Em duas sessões, um conflito que envolveu a rescisão de um contrato entre uma cooperativa e um cooperado foi resolvido, co acordo entre as partes.
Para o dirigente da cooperativa, Messias Gonçalves, 67 anos, um dos envolvidos na negociação, o cartório foi ágil e afetou de forma positiva na resolução do impasse. “Levei em conta o tempo, os custos e os caminhos que seriam percorridos. Se não tivesse esse acordo, teria mais gastos e gastaria mais tempo. Aqui no cartório tivemos a liberdade de expor os problemas, analisar os impasses e, por fim, cada um cedeu de um lado. Foi um ótimo aprendizado”, elogia Messias.
O oficial do cartório Marcos Vinícius Porto aproveita para lembrar que o objetivo da mediação não é alcançar o acordo, mas que essa é uma consequência da aceitação pelas partes de que o acordo é a melhor alternativa. “O nosso objetivo é entender a situação, os sentimentos, as necessidades, os interesses, para, como consequência, alcançar o acordo”, completa.
Fonte: Correio Braziliense