A população de Bauru/SP continua crescendo, porém, em ritmo cada vez menor. Levantamento realizado pelo Jornal da Cidade junto aos dois cartórios de registro civil do município apontou que o número de nascimentos foi 76% superior ao de mortes no primeiro semestre de 2013.
Em 2011, esta proporção havia sido bem maior, de 106%. Já em 2006, era de 112%, o que demonstra visível tendência de queda na taxa de fecundidade, embora esse índice continue bem acima do volume de óbitos. A partir de 2040, o número de óbitos deverá ultrapassar o volume de nascimentos em Bauru.
Nos primeiros seis meses de 2013, 2.767 pessoas nasceram em Bauru, 76,6% a mais do que as 1.567 que morreram no mesmo período, segundo os cartórios de registro civil do município. Mas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta diferença era ainda maior há alguns anos.
Em todo o ano de 2011, foram registrados 5.027 nascimentos na cidade, número 106% maior que os 2.439 óbitos somados no período. Já em 2006, o número de novos bebês foi 112% superior ao das mortes ocorridas no mesmo ano.
O pesquisador do IBGE Gabriel Borges explica que as estatísticas revelam um fenômeno histórico ainda em curso: a sensível queda na taxa de fecundidade associada ao aumento da expectativa de vida da população. Trata-se de uma realidade já consolidada em países desenvolvidos e que vem sendo verificada no Brasil desde o século passado.
“A peculiaridade é que, no Brasil, a transição demográfica – ou seja, o envelhecimento da população com inversão da pirâmide etária – está ocorrendo numa velocidade muito maior. No Reino Unido, este processo levou mais de 100 anos. Aqui, foi em 40 anos”, comenta. Para se ter uma ideia, o crescimento populacional que, na década de 1960, era de 3% ao ano, caiu para 1% em 2010.
Com isso, famílias como a da dona de casa Juliana Cristina dos Santos serão cada vez mais raras. Com apenas 26 anos, ela deu à luz, na última segunda-feira, a terceira filha, que nasceu de parto normal na Maternidade Santa Isabel.
Responsabilidade
A menina, franzina e cabeluda, ainda não recebeu nome porque os pais ainda não se decidiram entre Marcele, Tairine, Giovana ou Kételin. Mãe de Felipe, 8 anos, e Yuri, 5 anos, Juliana diz que a gravidez da caçula não foi planejada e que, depois do ‘susto’, pretende ‘fechar a fábrica’.
“Três filhos, hoje em dia, é muita coisa. Dessa vez, queria operar (as trompas), mas o médico não deixou. Agora, estou contando com a ajuda de amigos e parentes para dar conta de toda a responsabilidade”, diz.
De fato, uma família com três filhos é algo cada vez mais raro. Conforme aponta Borges, trata-se de uma tendência, aparentemente irreversível, consequência do surgimento de novas tecnologias que aprimoraram os recursos da medicina, com a descoberta de novos procedimentos cirúrgicos e vacinas, por exemplo, o que garantiu o prolongamento da vida das pessoas.
Por outro lado, houve o ingresso da mulher no mercado de trabalho, criando para ela uma série de novas perspectivas que extrapolaram ou ao menos postergaram o desejo de ter filhos. “Houve ainda uma mudança das pessoas do campo para as cidades, o que aumentou o custo e as necessidades destas famílias. O planejamento familiar, hoje, é algo muito mais presente na vida das pessoas que em décadas atrás”, frisa o pesquisador.
Inversão em 2040
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2039 e 2040, o número de mortes no País deverá se igualar e, em seguida, ultrapassar o de nascimentos, o que implicará no início do processo de decrescimento populacional. A estimativa é de que, em 2040, 1,951 milhão de pessoas nasçam no País e 2,033 milhões morram.
“E será um processo que ocorrerá, com menor ou maior intensidade, em todas as regiões do Brasil”, alerta o pesquisador Gabriel Borges. Em 2010, o Brasil registrou 2,9 milhões de nascimentos, volume 141% maior que o total de 1,2 milhão de mortes no período.
Envelhecimento
O Censo Demográfico de 2010 já revelava que Bauru está a caminho do envelhecimento de sua população, com um expressivo aumento do número de idosos e queda na quantidade de crianças e jovens. O levantamento apontava que os moradores acima dos 60 anos já representavam o dobro da quantidade de crianças com até 4 anos de idade.
Ao todo, eles somavam 44.941 idosos, 13% do total de habitantes da cidade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há 10 anos, quando o último levantamento havia sido realizado, representavam 10,3% da população.
Enquanto o crescimento vegetativo da cidade foi de 8,8% entre 2000 e 2010, a da faixa acima dos 60 anos teve acréscimo de significativos 36,84%. Em movimento contrário, no entanto, o número de crianças entre zero e 4 anos caiu 17%, de 25 mil para 20,7 mil.