No dia em que o maior poeta brasileiro do século XX, completaria 123 anos, Serjus-Anoreg/MG divulga sua certidão de nascimento com detalhe surpreendente
"No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho". A frase, um dos versos mais célebres da literatura brasileira, pertence a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o poeta, cronista e jornalista mineiro que completaria 123 anos neste 31 de outubro. Que Drummond é considerado um dos maiores nomes da poesia em língua portuguesa, todos sabem, no entanto, nesta data especial, a Associação de Notários e Registradores do Estado de Minas Gerais (Serjus-Anoreg/MG) teve acesso a sua certidão de nascimento e revela com exclusividade o que muitos não sabem: Drummond não era Drummond.
A curiosidade do nome
O eterno “Drummond” teve sua origem registrada em Minas Gerais. Ele nasceu em Itabira do Matto Dentro, atualmente Itabira, no dia 31 de outubro de 1902, às 06:00 horas, na residência da família, na Rua das Flores.
Ainda segundo sua certidão de nascimento (CNS nº 035949), expedida pelo Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Itabira, o nome registrado do poeta era apenas "CARLOS ANDRADE", sem o "Drummond" e o "de", que se tornaram partes indissociáveis de sua identidade literária, o que foi uma escolha posterior, uma licença poética que o tempo consagrou e que hoje se confunde com sua própria essência.
Conforme consta no documento oficial, seus pais eram Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond Andrade. O sobrenome Drummond vinha, portanto, de sua mãe, mas não foi incluído em seu registro de nascimento. Apenas anos depois, ao ingressar na vida literária, Carlos Andrade adotou o "Drummond" que sua mãe lhe havia transmitido, transformando-se no Carlos Drummond de Andrade que todos conhecem.
Hoje, a certidão é preservada como um documento histórico que marca o início da vida de um dos maiores nomes da literatura brasileira.
A ligação com os documentos
A ligação de Drummond com os documentos não se limitou ao seu nascimento. Além de poeta, ele foi funcionário público federal por muitos anos, trabalhando no Ministério da Educação e Saúde e, posteriormente, no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Sua experiência no ambiente administrativo e a convivência com a rotina dos papéis e dos carimbos serviram de inspiração para diversas crônicas e poemas, nos quais ele ironizava ou refletia sobre a vida por trás dos balcões e dos ofícios.
Itabira: uma obra monumental
Itabira, sua cidade natal, é um personagem constante em sua obra. A relação de Drummond com a terra em que nasceu é marcada por um misto de saudade e crítica, eternizada em poemas como ‘Confidência do Itabirano’: "De tudo o que herdei, guardo o que não herdei: o ferro das minas, o ferro do sangue, o ferro do coração”.
Durante sua vida, publicou um total de mais de 50 livros, sendo 25 de poesia e 16 de prosa (contos, crônicas e memórias). A produção poética é composta por mais de 6.000 crônicas escritas ao longo de sua carreira jornalística, que se estendeu por mais de 64 anos colaborando regularmente em alguns dos principais jornais do Brasil, especialmente no "Correio da Manhã" e no "Jornal do Brasil".
Drummond publicou seu primeiro livro em 1930, intitulado "Alguma Poesia", que ele mesmo custeou, lançando 500 exemplares sob o selo imaginário de Edições Pindorama. Este livro marca o início de uma trajetória que revolucionária a poesia brasileira. Entre suas obras mais importantes destacam-se:
Em 1981, em colaboração com o cartunista Ziraldo, publicou "Pipoqueiro da Esquina", um livro que reunia suas tiradas curtas sobre o cotidiano brasileiro.
O poeta também foi tradutor dos Beatles, tendo traduzido seis músicas do "Álbum Branco" para a revista "Realidade" em 1969: "Blackbird", "Happiness is a warm gun", "Obladi Oblada", "I will", "Piggies" e "Why we don't do it in the road".
Prêmios e reconhecimentos
A obra de Drummond foi amplamente reconhecida pela crítica e pela academia. Ele recebeu diversos prêmios importantes ao longo de sua vida:
Curiosamente, Drummond recusou o Prêmio Brasília de Literatura (1975), oferecido pela Fundação Cultural do Distrito Federal, demonstrando sua independência.
A poesia não morre
Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987, aos 84 anos. Seu legado, no entanto, permanece vivo e acessível. A Fundação Casa de Rui Barbosa, por exemplo, é a guardiã do vasto acervo do poeta, que inclui manuscritos, correspondências e, claro, documentos que atestam sua trajetória, como a certidão de óbito.
A Serjus-Anoreg/MG, ao celebrar a vida e obra de Carlos Drummond de Andrade, ressalta a importância do Registro Civil como o ponto de partida para a história de grandes personalidades. “É no ato de registrar que a existência de um cidadão é formalizada, e é a partir desse documento que toda a sua trajetória, seja ela nas letras, como Drummond, ganha seu primeiro e fundamental atestado de veracidade”, homenageou o presidente da entidade, Ari Álvares Pires Neto.
"No meio do caminho tinha uma pedra" e nessa pedra, no coração de Itabira, nasceu um dos maiores poetas da língua portuguesa. Seu nome pode ter começado como "Carlos Andrade", mas o mundo o conhece como Carlos Drummond de Andrade, um legado que transcende os papéis do Registro Civil e vive eternamente na memória cultural mineira e do Brasil.
Detalhes da Certidão de Nascimento:
Fonte: Assessoria de Comunicação Serjus-Anoreg/MG