A importância da temática voltou ao debate do mundo jurídico no decorrer dos últimos dias.
De fato, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 26/10/2023, que, “a execução extrajudicial do imóvel dado em garantia pelo devedor é compatível com as garantias processuais da Constituição — ou seja, que a cobrança, em cartório, do valor em débito, e o leilão extrajudicial do imóvel, no caso de não pagamento da mora, não violam o contraditório e a ampla defesa, não afastam o acesso do devedor ao Judiciário, nem afrontam o direito à moradia” (RE 860631/SP).
No mencionado julgado, o Supremo reconheceu a existência de repercussão geral do tema (982), o que significa que a decisão tomada no Plenário deve ser replicada nos casos semelhantes em outras instâncias.
A medida não impede o exame da questão pelo Judiciário, uma vez que a Lei n° 9.514/1997 estabelece que o fiduciante pode ir à Justiça caso verifique irregularidades na execução extrajudicial do imóvel.
É sabido que a alienação fiduciária de imóveis é o negócio jurídico que serve de título para a criação de um direito real de garantia: a propriedade fiduciária.
A sua origem remonta ao Direito Romano, no instituto da fiducia cum creditore, que se caracterizava pela transferência da propriedade de um bem móvel/imóvel para garantir o cumprimento de uma determinada obrigação firmada entre credor e devedor.
No direito brasileiro, a alienação fiduciária é regulamentada pela Lei nº 9.514/97, que assegura a realização da operação de financiamento ou empréstimo para pessoa física ou jurídica, configurada como situação de empréstimo com garantia de imóvel.
O Código Civil de 2002, no artigo 1.368-B, incluído pela Lei n°13.043/2014, determinou expressamente a sua natureza jurídica ao prever que: “A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel confere direito real de aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor”.
Trata-se, portanto, de direito real de garantia, decorrente de um contrato, cuja constituição depende do registro na Matrícula Imobiliária correspondente.
A alienação fiduciária de imóveis revolucionou — e ainda revoluciona — o mercado de crédito imobiliário, sendo uma garantia real usada em quase 100% das operações de compra e venda de imóveis no Brasil.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), a modalidade de alienação fiduciária representa 98,2% do financiamento bancário destinado à aquisição de imóveis, e que no ano de 2020 havia sete milhões de operações ativas garantidas por esse modelo.
A grande questão é que a Lei que regula a alienação fiduciária de imóveis, não é nova, e, desde o ano de 1997, estimula a resolução do conflito — credor x devedor — por meio de procedimento extrajudicial junto ao Cartório de Imóveis que possui a matrícula do bem. A iniciativa legislativa, existente na Lei n° 9.514/1997, de balanceamento entre a proteção pelos riscos assumidos pela instituição credora e a preservação dos direitos fundamentais do devedor, é, extremamente louvável diante de um Judiciário tão congestionado.
Dito isto, percebe-se que não houve inovação do Supremo Tribunal Federal ao validar uma Lei já existente desde o ano de 1997.
Na verdade, o recente julgamento do STF se mostra como uma cortina de fumaça para o PL n° 4.188/21, Marco Legal das Garantias de Empréstimo, aprovado também no mês de outubro do corrente ano (dia 03/10/2023), pela Câmara dos Deputados, já estando a caminho da sanção presidencial.
O mencionado projeto de lei reformula regras sobra a garantia real dada em empréstimos, como hipoteca ou alienação fiduciária de imóveis, aperfeiçoando, portanto, a Lei n° 9.514/1997.
Com a sanção do PL n° 4.188/21, será possível alienar a mesma propriedade em outros empréstimos feitos na mesma instituição ou em concorrentes, por exemplo. Outro objetivo é alavancar a economia do país, ampliando o acesso ao crédito.
Resta, pois, aguardar as inovações que serão introduzidas na Lei n° 9.514/1997. Mas, uma coisa é fato: as instituições financeiras passarão a conceder uma garantia imobiliária com maior nível de segurança, dado que haverá uma melhora na leitura de riscos de cada uma das transações, o que, por sua vez, incentiva a concessão de crédito.
Fonte: ConJur