Num momento em que o Brasil discute novos parâmetros de educação, um estudo sobre o setor na Finlândia, elaborado pela consultora legislativa Tatiana Feitosa de Britto, mostra que o país europeu só conseguiu se destacar nesse quesito após uma reforma de longo prazo. Entitulado “O que é que a Finlândia tem? Notas sobre um sistema educacional de alto desempenho”, o estudo está disponível no portal do Senado.
Ao receber parlamentares finlandeses nesta terça-feira (28) no Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que o país, que até 1950 era pobre e exportava papel higiênico e madeira, conseguiu se destacar graças ao investimento em educação.
- A Finlândia, graças ao investimento na educação de base, se transformou num país importante nas universidades, numa visão científica e tecnológica, e hoje bastante rico - disse.
Segundo Tatiana, a Finlândia passou a ser reconhecida como exemplo educacional após os primeiros resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), em 2001, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o objetivo de monitorar o desempenho dos sistemas educacionais. No Pisa, a Finlândia é o país com a menor diferenciação entre escolas, o que indica alto nível de igualdade no sistema educacional.
Conforme o estudo, as reformas que levaram o país a esse patamar foram implementadas ao longo de quatro décadas, a partir da década de 1960. Uma das principais mudanças implementadas pelo país, de acordo com a consultora, foi oferecer educação básica universal e gratuita a toda a população de 7 a 16 anos de idade.
A Finlândia investiu também na formação de professores, com cinco anos de duração e exigência de mestrado, e na elaboração de um currículo básico nacional, dando autonomia às escolas para que formulem seus currículos específicos, respeitada a carga horária exigida.
Recentemente, segundo Tatiana, o sistema de ensino finlandês passou por nova reforma, com o fortalecimento da educação profissional integrada ao ensino médio e a criação de uma rede de instituições superiores politécnicas. No ensino médio, mais de 40% dos alunos hoje optam pela modalidade integrada à educação profissional. Ela destaca que os diplomas, tanto do ensino médio regular quanto do integrado à educação profissional, dão acesso aos dois tipos de instituição de ensino superior finlandesa: as universidades e as politécnicas.
Pisa
De acordo com a consultora, de três em três anos, em cada país participante do Pisa é aplicado o exame em uma amostra representativa de alunos de 15 anos de idade que tenham completado pelo menos seis anos de escolaridade. O teste abrange habilidades desenvolvidas pelos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências, sendo que, a cada rodada, é dada ênfase a um desses campos. A prova do Pisa, segundo Tatiana, diferencia-se por não adotar uma abordagem curricular.
A intenção do exame é mensurar o nível de preparo dos jovens ao completar a escolaridade considerada indispensável para enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. De acordo com a consultora, a primeira rodada do Pisa, em 2000, contou com 28 países membros da OCDE e outros 14 não membros, incluindo o Brasil. Em 2012, além dos 34 países membros da OCDE, participaram outros 30.
Finlândia x Brasil
Tatiana ressalta que não se deve falar da transposição direta da experiência finlandesa para outros contextos, devido às suas peculiaridades históricas, políticas e culturais. No entanto, mesmo não existindo uma “receita mágica”, a consultora enfatiza que o Brasil pode refletir e tirar lições de exemplos bem-sucedidos.
A consultora acredita que pode ser útil para pensar o caso brasileiro o exemplo de reforma de longo prazo. Segundo Tatiana, a reforma na Finlândia só foi possível graças à construção de amplos consensos entre os partidos e a sociedade.
Outro fator que pode inspirar a transformação da educação brasileira seria o fato de a Finlândia não ter adotado um pensamento dito “empresarial” na educação. Esse pensamento, segundo Tatiana, engloba uma fixação de prescrições curriculares rígidas e padronizadas, testes padronizados externos para avaliar os alunos, o estímulo da competição entre os estabelecimentos de ensino e responsabilização direta dos profissionais da educação pelos resultados alcançados.
"A centralidade dos profissionais da educação e a compreensão do processo de ensino-aprendizagem como um processo criativo por natureza, em que devem predominar relações de compromisso e confiança mútua, são aspectos importantes a serem considerados em nosso meio”, afirmou.