Especialistas dão orientações para procurar imóveis com responsabilidade
O “sonho da casa própria” não sai de moda e, hoje, ser dono de um imóvel é um objetivo de 87% dos brasileiros, segundo pesquisa da plataforma Quinto Andar com o Instituto Datafolha. Mas 2023 é o momento de tomar esse passo? Como a maioria das grandes decisões que envolvem a vida financeira, segundo especialistas, depende — do quanto você tem no banco, do nível de engajamento com essa dívida que se dispõe a ter nos próximos anos e do cenário econômico do país.
“A compra de um imóvel é algo que gera um alto nível de engajamento e envolvimento. Mas é quase sempre um bom investimento. Em cinco anos, é garantido que o imóbel estará valorizado, mesmo que você pague juros nas parcelas. Se a pessoa mora em uma cidade em que pretende criar raízes e tem uma vida estável, faz sentido comprar. Acho um desperdício não fazer isso, nesse caso, porque imóvel é um patrimônio familiar”, avalia o consultor do mercado imobiliário João Lacerda.
Ele compara o primeiro trimestre do ano a um “Natal dos corretores”, com alta procura por imóveis. “As pessoas chegam nesse período com vontade de resolver a vida”, pontua Lacerda. O mercado ainda aguarda os rumos da política econômica da gestão Lula (PT), mas a previsão do Banco Central é que a Selic, taxa básica de juros no Brasil, termine 2023 em 12%, pouco abaixo do patamar atual, portanto sem grande queda nos juros do financiamento. Ao mesmo tempo, o governo federal anunciou a retomada do programa Minha Casa Minha Vida, o que pode movimentar o setor imobiliário.
A vice-presidente de Administradoras de Imóveis da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas (CMI-Secovi), Flávia Vieira, pondera que, independentemente de como se comporta a economia ao longo do ano, o setor se manterá em movimento. “O mercado imobiliário vive em função da vida das pessoas. Elas têm projetos, casam, têm filhos, ficam viúvas e precisam de uma casa menor, a vida não para. Se a pessoa tem a possibilidade de esperar, pode ter cautela, mas entra em um risco, porque hoje o mercado está como no final do ano passado, mas pode mudar”, diz. Por isso, para tomar esse passo com mais responsabilidade, confira as quatro dicas a seguir:
Um cliente sem noção clara do que deseja em uma casa ou em qual bairro almeja morar estende o leque de possibilidades e pode encontrar mais ofertas. Por outro lado, perde parâmetros de comparação entre um imóvel e outro e também costuma demorar mais a encontrar a casa ideal.
“A compra do imóvel tem que ser muito criteriosa. O que é mais importante para você? Às vezes, a pessoa está buscando imóvel em determinada área, mas não consegue encaixar dentro do orçamento, porque ela é mais cara, então tem que reduzir o tamanho do imóvel. Mas, aí, ele fica pequeno demais, você se incomoda, ele não se adapta à sua realidade. O maior erro é não avaliar com critério a qualidade de vida no imóvel em que você morará”, aconselha a vice-presidente da CMI-Secovi, Flávia Vieira. Ela recomenda, portanto, que o cliente entenda o que considera prioritário e não pode faltar em um imóvel ou região, o que agiliza a busca tanto dele próprio quanto do corretor.
Os bancos exigem pelo menos 20% do valor do imóvel como entrada antes do financiamento, mas o ideal é ter uma reserva maior que essa para comprar uma casa, aconselha o consultor do mercado imobiliário João Lacerda. “A régua dos bancos varia e as pessoas se frustram quando o banco financia só 40%, 50% do imóvel. Isso depende do score bancário da pessoa. Além disso, além dos 20% de entrada, o comprador precisa de mais 5% para as despesas de cartório e mais um dinheiro, se a casa não for nova, para ajustar armário, parte elétrica, o que precisar. É interessante ter pelo menos 30% do valor do imovel em mãos”, pontua.
Flávia Vieira, da CMI-Secovi, também pontua que o valor que a pessoa paga de aluguel é um bom parâmetro para entender o quanto pode pagar pela casa própria. Mas o comprador pode esperar outros gastos — quando se deixa de ser inquilino, gastos como reforma do prédio e manutenção da estrutura do apartamento acumulam-se ao condomínio e às parcelas da compra.
No momento de financiar um imóvel, não é necessário se prender ao banco em que você já possui uma conta. Todos os grandes bancos do país oferecem opções de financiamento, com diferentes condições, e o ideal é percorrê-los para comparar alternativas. A maioria disponibiliza simuladores no próprio site, inclusive.
“Tem que pesquisar. Hoje em dia, os bancos trabalham muito com reciprocidade e aquele em que você tem conta terá uma possibilidade de financiamento com mais agilidade. Por outro lado, há aquele com opções mais em conta. Você não tem que ter fidelidade ao banco”, lembra a vice-presidente da CMI-Secovi, Flávia Vieira.
Cada banco terá uma taxa mínima de juros diferente, mas nem sempre o cliente terá acesso a essa taxa, que costuma ser reservada àqueles com longo relacionamento com a instituição ou com um histórico financeiro considerado excelente. Os juros incidirão mensalmente sobre as parcelas, mas, além de prestar atenção às mensalidades, é necessário calcular o valor final da dívida, o Custo Efetivo Total (CET), que engloba todos os custos da compra do imóvel.
Dois tipos de pagamento guiam o financiamento do imóvel: a Tabela Price e o Sistema de Amortização Constante (SAC). A Tabela Price está em desuso para a compra de imóveis, mas ainda é uma opção. Ela tem juros totais mais altos, mas parcelas com o mesmo valor até o final do financiamento. Já a SAC começa com parcelas mais altas que a Price, que vão decaindo até a última prestação. No total, os juros implicados nessa opção são mais baixos.
A taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, teve uma alta histórica e está estacionada em 13,75% ao ano, a maior desde o início de 2017. No início da pandemia, ela teve uma baixa e criou uma janela de oportunidade para comprar um imóvel com juros mais baixos. Essa janela se fechou, porém os juros do mercado imobiliário não se elevaram no mesmo patamar da Selic.
O consultor do mercado imobiliário João Lacerda pondera que, a despeito das condições melhores ou piores de juros, a tendência é que os imóveis continuem a se valorizar, portanto quem já tem o dinheiro da entrada deve refletir sobre quanto tempo vale a pena continuar esperando. “O preço sempre está subindo e é um tempo em que você poderia estar usufruindo do imóvel. Se você espera, depois compra o mesmo imóvel mais caro”, reflete.