Oficial de Santo Antônio do Monte completou 40 anos à frente da serventia, sempre preocupado em manter um atendimento de qualidade para a população
Santo Antônio do Monte, na região Centro-Oeste de Minas, possui pouco mais de 28 mil habitantes, mas sustenta o curioso título de capital brasileira dos fogos de artifício. Cerca de 96% de toda a produção nacional vem de lá, mas, como dizia o pai de Sinfrônio Ferreira de Souza, oficial de Registro de Imóveis da cidade, “trabalhar com foguete é assim: você dorme rico e acorda pobre”. Depois de perder sua fábrica duas vezes para as chamas, ele aconselhou o filho a seguir por um caminho mais seguro. E, há 40 anos, o jovem Sinfrônio trocava a fábrica pelo cartório.
Após finalizar a graduação em Direito, ganhou o cartório de presente do pai, que havia adquirido o espaço a um alto custo financeiro para que o filho pudesse gerenciá-lo. A prática era permitida na época, pois os concursos públicos só passaram a ser realizados após a Constituição Federal de 1988. Sinfrônio, porém, não se imaginava na posição de registrador. O início foi difícil, era como estar em um território desconhecido. O então juiz da comarca, Dr. José Rafael Gontijo, chegou até mesmo a delegar a um sobrinho a missão de auxiliá-lo na nova empreitada. A ajuda, no entanto, trazia mais dores de cabeça do que soluções. O jovem era apressado, característica que não combinava tanto com a atividade. Mas as coisas foram se acertando na prática do dia a dia.
Khalil Gibran, ensaísta libanês, escreveu que “as tartarugas conhecem as estradas melhor do que os coelhos”. Sinfrônio é assim, um amante da perfeição. Seu jeito de falar é calmo e detalhista, como um bom contador de histórias. Talvez seja essa a fórmula do sucesso, inclusive. Em 16 de dezembro de 1981, foi nomeado oficial do Registro de Imóveis de Santo Antônio do Monte e começou a aprender mais sobre a profissão. O cartório, que começou com apenas três funcionários, hoje possui quinze colaboradores. E os bons resultados obtidos ao longo desses anos têm sido reconhecidos. Em 2019, participaram pela primeira vez do Prêmio de Qualidade Total Anoreg/BR (PQTA), obtendo 95,5% de conformidade e classificando-se na categoria Ouro. Em 2021, o feito foi ainda maior: conformidade superior a 96% e premiado na categoria Diamante.
Mas as questões ligadas à gestão de Qualidade não afastam a memória afetiva que Sinfrônio possui do cartório. A relação familiar permanece forte, pois os filhos ainda o ajudam a conduzir os trabalhos realizados – uma relação construída sob admiração mútua. O patriarca revela que é uma segurança conduzir o cartório junto deles. Do outro lado, os olhos do primogênito Gustavo Brasil, substituto na serventia, brilham ao contar como foi crescer tendo o pai como espelho. “O ensinamento é questão de valores e princípios. Ser uma pessoa honesta, ética, sempre buscando melhorar. São coisas que você herda e vai seguindo esse caminho”, diz.
Se o cartório é como uma planta e precisa ser regada, essa parceria entre pai e filhos tem gerado bons frutos. Em 2011, o RI da capital brasileira dos fogos de artifício ganhou uma sede própria, construída para possibilitar o atendimento pleno aos clientes e o conforto dos colaboradores. Nos últimos cinco anos, o principal foco foi a modernização eletrônica e a digitalização do acervo. Mas Gustavo afirma que eles querem ir além. Para o primogênito, a atividade registral imobiliária deve ser mais inclusiva, cumprindo a função social de registrar as propriedades. E o caminho apontado para isso é com a padronização da qualificação.
Uma evolução constante na gestão, mas que acompanha as características de uma cidade do interior. Todos os moradores se conhecem e cresceram com o cartório – e o próprio Sinfrônio – sendo uma das referências para o município. Poder testemunhar a passagem do tempo é uma dádiva e Sinfrônio faz parte da história dos santo-antonienses. A área urbana se expande, a rural vira loteamentos subdivididos em lotes, casas são construídas e famílias crescem. Do papel datilografado à era digital, tudo tem sido documentado pelo cartório nesses 40 anos.
O oficial é um arquivo vivo da atividade registral em Minas Gerais e no país. E ele não se arrepende pelas escolhas feitas. Em tom bem-humorado, ri ao dizer que hoje não aceitaria uma fábrica de foguetes de presente. Ao citar as palavras de Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, falecido bispo da Diocese de Luz/MG, o oficial diz o homem deixa um rastro por onde passa, seja ele de luz ou de lama. E, até aqui, o caminho de Sinfrônio foi iluminado.
Fonte: Cori-MG