Dados de cartórios apontam 6.408 óbitos de janeiro a 4 de julho, alta de 51% em relação à 2020. Além dos homicídios, estatística considera outras causas não naturais dos óbitos
Minas Gerais registrou entre janeiro e o último dia 4, o maior número de mortes por causas violentas da última década. É o que apontam os dados dos cartórios do Estado repassados à Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Conforme o levantamento, no período, foram registrados 6.408 mortes violentas em Minas, contra 4.220 no mesmo período do ano passado, alta de 51,4%.
Em 2014, pouco mais de 6.200 pessoas morreram no Estado por causas violentas, índice até então considerado o maior a partir de 2011 – no ano seguinte, houve uma queda de 15%. Em 2021, com quase a outra metade do ano ainda por vir, o número de falecimentos por crimes violentos em Minas já se aproxima do total de 2020, quando 7.897 óbitos foram registrados nos cartórios.
De acordo com a Arpen, mortes por causas violentas são neste ano o quinto motivo mais frequente dos óbitos no Estado, atrás apenas da Covid-19 (33,8 mil), causas naturais (25,5 mil), sepse (7.400) e pneumonia (7.000).
De acordo com a diretora da Arpen, Andreia Gagliardi, as mortes violentas são definidas por uma portaria do Ministério da Saúde e incluem aquelas decorrentes de causas não naturais.
“Assim, tanto podem decorrer de acidentes das mais variados, quanto de violência contra a pessoa, no sentido mais comum da palavra. As mortes decorrentes de quedas, queimaduras, afogamento, além daquelas causadas no trânsito, por exemplo. Já os óbitos violentos propriamente ditos, são decorrem da ação humana, com uso de armas de fogo, armas brancas ou agressão física”, elucida Gagliardi.
Relação com a pandemia
O coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública da PUC-Minas, Luís Flávio Sapori, disse que a situação retratada pelos cartórios é uma surpresa. “A princípio, foge às minhas expectativas com relação ao que eu estava supondo com o que acontecia no Estado”, disse.
Para o especialista, parte desse aumento nas mortes violentas pode ter relação com a retomada das atividades econômicas e sociais em meio à pandemia. “A vida comunitária, mais atividade, de uma maneira geral, pode explicar em parte sim, mas ainda assim a diferença é muito grande e é algo muito surpreendente”, disse.
Sapori não acredita que o desemprego e a crise econômica provocada pela pandemia tenham impactado no número de óbitos. “Os estudos no Brasil mostram que não há uma relação direta entre os fenômenos, geralmente favorecem o crescimento de crimes contra o patrimônio, especialmente furtos, mas mortes violentas, geralmente não”, acrescentou.
Diagnóstico incerto
O pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Frederico Marinho, também se diz surpreendido com a alta, mas ressalta que as estatísticas oficiais apontam para queda de crimes violentos em Minas nos últimos anos.
“É preciso saber se é um problema de segurança pública, saúde ou políticas no trânsito, se aumentou muito o número de pessoas atropeladas, é difícil discriminar por essa base”, avalia Marinho.
Crimes violentos registram queda no Estado
Conforme os registros oficiais de criminalidade violenta do Estado, Minas Gerais apresentou queda de 26,7% na comparação de janeiro a maio de 2021 com o mesmo período de 2020.
De acordo com a Sejusp, a Arpen utiliza outra metodologia, que tem como fonte dados registrados em cartórios e que são compilados no Sistema de Informações de Mortalidade, do DataSUS. É baseado no preenchimento de mortes, em hospitais, por profissionais de saúde.
“Os números da Arpen incluem, por exemplo, dados que não são de crimes violentos, como acidentes de trânsito, afogamento, etc. A base de dados da Arpen não pode ser comparada à nossa base de dados, pois são bases completamente distintas”, alega a Sejusp.
Fonte: O Tempo