A pequena Isabella nasceu com 50 centímetros e mais de 3 quilos
Qual o tamanho da esperança? Cinquenta centímetros? Três quilos e 110 gramas? Foi assim que a pequena Isabella Victória Martins da Silva nasceu em Montes Claros, no Norte de Minas. A bebê é primogênita do casal transexual Rodrigo Bryan da Silva, de 33 anos, e Ellen Carine Martins da Silva, de 25.
Essa é a primeira declaração de nascido vivo de filha de um casal transexual do Norte de Minas. O gestante foi o pai Rodrigo, que nasceu Bárbara Poliana e não se reconhecia em um corpo feminino. Ele conta como foi a gravidez, em meio ao preconceito na sociedade.
“A gente decidiu ter nossa filha desde o momento em que a gente se conheceu. Meu sonho era ser pai, e o dela, ser mãe. Então a gente decidiu tentar. Em relação ao preconceito, a gente sofreu e sofre até hoje, a partir do momento em que a gente decidiu expor nossa gestação, para levar informação para outras pessoas. Sempre teve preconceito e sempre vai ter, isso a gente já sabe.”
Como ele não teve contrações suficientes, a equipe médica decidiu realizar o parto induzido assistido. O parto normal foi realizado nessa terça-feira (6), uma semana antes do previsto, na maternidade Maria Barbosa, do Hospital Universitário Clemente de Faria, vinculado à Unimontes. O casal e a recém-nascida aguardam a alta nesta quarta.
A mãe, Ellen Carine, que já foi um menino e não se sentia feliz em um corpo masculino, conta que o casal foi recebido e tratado com respeito no hospital. “A gente se sentiu dentro da nossa casa, com uma equipe mais que preparada, que deixou a gente extremamente à vontade e fez desse momento o mais maravilhoso que poderia ser. A gente é eternamente grato a eles.”
De acordo com a socióloga da maternidade, Theresa Raquel Martinez, a chegada de Isabella ao mundo é um marco histórico. “Esse nascimento traz para a gente um dia especial. É o primeiro casal trans do Norte de Minas a ter um bebê e, mais do que isso, é a primeira vez que a gente tem ciência, não só na região, mas no estado e também no Brasil, de que a certidão de nascido vivo sai no nome da mãe, ainda que ela não esteja internada.”
Ellen afirma que o nascimento da filha é a realização de um sonho e também de uma representatividade. “O nascimento da Isabella, não só para mim e para o meu esposo, mas também para toda a classe LGBTQIA+, é uma luz no fim do túnel, que mostra que, independentemente da sua classe social, do seu gênero, você é capaz de correr atrás dos seus sonhos e conquistar sua família.”
Agora, o casal, que trabalha como digital influencer com a página Gestação Trans com mais de 100 mil seguidores, já planeja ter um menino.
“Minha esposa sempre foi filha única e sentiu falta de um irmãozinho, e eu sempre quis ter um menino, então a gente vai tentar. A gente vive um preconceito e ela (Isabella) trouxe muita esperança para a gente continuar a viver e lutar pelos nossos direitos”, diz Rodrigo.
Fonte: Rádio Itatiaia