Reportagem flagrou cerca de 30 pessoas na porta do 3º Cartório de Registro Civil, na rua São Paulo, no bairro de Lourdes
As mortes provocadas pelo coronavírus em Belo Horizonte têm obrigado os familiares das vítimas da doença a enfrentarem fila nos cartórios para conseguirem registrar à certidão de óbito no fim de semana. No início da tarde deste domingo (28), a reportagem de O TEMPO flagrou cerca de 30 pessoas em uma fila na porta do 3º Cartório de Registro Civil, na rua São Paulo, no bairro de Lourdes, na região Centro-Sul da capital, aguardando atendimento para obter o registro de óbito. O documento é necessário para conseguir fazer o sepultamento das pessoas que morrem.
O assistente social Adailton Oliveira Batista, de 49 anos, é um dos milhares de belo-horizontinos que teve a vida de um ente querido ceifada pela doença. Morador do bairro Palmares, na região Nordeste, ele precisou ir até o cartório do bairro de Lourdes para registrar o óbito do sogro, de 74 anos, que faleceu na noite de sábado (27), após ficar três dias internado em um leito de UTI do Hospital Semper.
“Meu sogro fazia hemodiálise e tinha arritmia cardíaca, mas a Covid agravou o quadro de saúde dele. Fui no cartório de Venda Nova, que é mais perto de casa, tentar registrar a certidão de óbito. Lá me informaram que eu deveria vir no cartório da minha regional, na Rua Guarani, no Centro. Como lá estava fechado, eu vim parar aqui. Cheguei às 10h40 e estamos há duas horas na fila. Numa situação de pandemia como a que estamos vivendo, as autoridades da cidade deveriam nos ajudar a ter um atendimento melhor durante o plantão dos cartórios, sem essa restrição de atendimento regionalizado por bairro. É um absurdo isso. Estou de máscara, mantendo distância das pessoas, mas até nessa fila estamos correndo risco de contrair a doença”, relata.
O empresário Tadeus Motta, de 42 anos, também estava na fila para registrar o óbito da mãe, de 81 anos, que morreu por causa do coronavírus. Ela foi internada na última sexta-feira no Hospital da Unimed, com os dois pulmões comprometidos após contrair a doença.
“Minha mãe chegou a tomar a vacina contra a Covid no dia 12 de março. Pra nós foi uma grande infelicidade porque mesmo mantendo ela isolada em sítio no interior, onde o acesso era restrito a cuidadora que ficava com ela e a mim, ela contraiu a doença. Pelos exames, os médicos disseram que ela contraiu o vírus cerca de dois ou três dias antes de tomar a vacina”, conta.
O empresário também reclamou do atendimento restrito dos cartórios para fazer o registro da certidão de óbito no fim de semana. “Isso que estou vivenciando aqui na porta do cartório é um dos efeitos colaterais da Covid. Diante desse cenário pandêmico, o atendimento nos plantões deveria ser facilitado para quem precisa enterrar seu ente querido”, afirma.
Recorde de mortes
Com o sistema de saúde em colapso há mais de sete dias, Belo Horizonte registrou na noite de sexta-feira (26) número recorde de mortes decorrentes do coronavírus notificadas à Secretaria Municipal de Saúde (SMS-BH) no curto período de 24 horas. Foram 59 óbitos contabilizados pelo órgão de quinta-feira (25) para cá – trata-se do maior número desde o início da pandemia de Covid-19, em março passado. O número de mortos pela doença subiu para 3.145 na cidade.
Como o mês de março tem registrado a maior média de sepultamentos nos cemitérios municipais de Belo Horizonte do ano – cerca de 38 por dia, a Prefeitura de BH precisou ampliar o número de coveiros para realizar os sepultamentos e fez a contratação de 15 coveiros em uma ação emergencial, ampliando o número de profissionais do ramo, de 35 para 50.
Fonte: O Tempo