Ministério da Saúde aumentou número de campos de preenchimento obrigatório em sistema informatizado sem dar tempo para que municípios se preparassem para a mudança, o que resultou em redução de registros de mortes
São enganosas as postagens nas redes sociais que dizem que diminuiu o número de pessoas mortas pela covid-19 em São Paulo após o Ministério da Saúde exigir o número de CPF dos falecidos. As publicações tiram a nova exigência de contexto para minar a confiança nos registros oficiais e falsamente contestar a dimensão da pandemia.
Na verdade, os números ficaram abaixo da média semanal na quarta-feira, 24, por causa de um represamento causado pela mudança no cadastro dos óbitos no sistema informatizado do ministério, alimentado pelos municípios. Depois de receber reclamações, o ministério voltou atrás na decisão, deixando de considerar obrigatório o preenchimento de novos campos, como o número do cartão SUS e a informação sobre a vacinação ou não da vítima de covid-19.
Na quarta, o governo de São Paulo informou que o número divulgado, de 281 mortes, estava abaixo da média para a semana, que era de 532 até então. Isso não quer dizer que houve menos mortes, mas sim que muitas delas não puderam ser notificadas e repassadas ao Ministério da Saúde a tempo. O secretário de saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, justificou que “não se deixou prazo para que os municípios se habilitassem nessa mudança”. Segundo ele, as prefeituras “não conseguiram completar o preenchimento desses campos”.
Horas depois de São Paulo anunciar o problema e dizer que isso poderia criar uma impressão artificial do impacto da pandemia, o Ministério da Saúde voltou atrás e suspendeu a obrigação. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) informou que a exigência de informar o CPF já estava em discussão, mas que é preciso dar tempo para que as secretarias de saúde possam se adequar à medida. Na quinta-feira, dia seguinte ao recuo do ministério, São Paulo informou a ocorrência de 599 óbitos.
São Paulo não foi o único Estado a apontar problemas de preenchimento. O Mato Grosso do Sul informou 20 óbitos na quarta-feira, mas o secretário de saúde Geraldo Resende disse que “o número de mortes não representa a realidade e pode ser ainda maior”. No dia seguinte, o Estado notificou o registro de 60 mortes.
Fonte: Estadão