A Procuradoria-Geral Federal (PGF), órgão vinculado à Advocacia-Geral da
União (AGU), está apostando em meios alternativos - conciliação e protesto -
para a cobrança de R$ 40 bilhões devidos às 155 autarquias e fundações
públicas federais. Por meio de um projeto-piloto de protesto de certidões de
dívida ativa (CDAs), o órgão conseguiu, no prazo de um ano, recuperar 32,1%
de R$ 9,77 milhões em créditos do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e Agência Nacional do Petróleo
(ANP). "Nas execuções fiscais, o índice de recuperação não chega a 2%", diz
o coordenador-geral de cobrança e recuperação de créditos da PGF, procurador
federal Fabio Munhoz.
O órgão também alcançou um bom índice de recuperação, segundo Munhoz, em um
mutirão de conciliações realizado no fim de outubro, em Brasília. Em quatro
dias, a PGF recuperou, por meio de um outro projeto-piloto, R$ 843 mil em
créditos do Inmetro, Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel). Foram fechados acordos em todos os
processos extrajudiciais negociados. Nos judiciais, o índice foi de 92%.
Para atrair os devedores, a PGF ofereceu um parcelamento, estabelecido pela
Portaria AGU nº 449, do dia 22 de outubro. Os débitos puderam ser divididos
em até 60 prestações mensais, com anistia de encargo legal. Para os
pagamentos à vista, foram oferecidas reduções de 50% das multas de mora e de
ofício, de 45% dos juros de mora e de 100% sobre o valor do encargo legal.
Foram negociadas dívidas de até R$ 100 mil.
Com o sucesso da iniciativa, a Procuradoria-Geral Federal já pensa em
realizar mutirões em outras regiões do país, levando débitos de outras
autarquias e fundações. Os protestos também serão intensificados. Neste mês,
começaram a ser levadas a cartório dívidas com a Anatel e a Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT). "Os resultados demonstram que foi acertada
a adoção de meios alternativos de cobrança pela PGF", afirma Munhoz.
No projeto, que completou um ano em outubro, a PGF levou a protesto 3.687
certidões de até R$ 10 mil - 90% do Inmetro e o restante da ANP. Do total,
1.071 foram pagas. A grande maioria das dívidas foi quitada no prazo de três
dias depois da notificação pelo cartório. Após esse período, a dívida é
efetivamente protestada e o nome da pessoa física ou empresa passa a constar
em cadastros de proteção ao crédito, o que impede, por exemplo, a
contratação de financiamento bancário.
Até meados de 2012, os protestos serão automáticos. Será incluída uma
ferramenta em um sistema de informática criado recentemente para controle da
dívida ativa de autarquias e fundações federais. A PGF começou a unificar a
cobrança da administração indireta em 2007. A determinação foi inserida na
Lei nº 11.457, de março daquele ano, que criou a Super-Receita. Até então, a
cobrança era descentralizada e apenas cinco dos 155 órgãos tinham controles
informatizados.
O protesto extrajudicial de certidões da União, das autarquias e das
fundações públicas está previsto na Portaria Interministerial nº 574-A, de
20 de dezembro de 2010. A ferramenta também foi adotada por Estados - como
São Paulo e Rio de Janeiro - e municípios. Contribuintes, no entanto,
questionam na Justiça o uso do protesto. Alegam que é uma forma de coagi-los
a quitar seus débitos e que a Lei de Execuções Fiscais - nº 6.830, de 1980 -
já dispõe sobre as possibilidades de cobrança de tributos.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), de acordo com a advogada Patrícia
Madrid Baldassare, do escritório Palma, de Natale & Teracin - Consultores e
Advogados, já há precedentes favoráveis aos contribuintes. "Os ministros têm
entendido que é uma medida desnecessária", afirma a advogada, acrescentando
que "a jurisprudência ainda não tem diferenciado o protesto feito pela
administração direita ou por autarquia".
Veículo de Comunicação: Valor Econômico
Editoria: LEGISLAÇÃO&TRIBUTOS
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Jornalista: Arthur Rosa
Data Publicação: 25/11/2011 0:00:00
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