A proposta do Tribunal de Justiça do Estado (TJMG), para que se torne
obrigatório o registro em cartório dos contratos de financiamento de
veículos, que representará nova taxa para esse tipo de negócio, foi
contestada por convidados e deputados da Comissão de Defesa do Consumidor e
do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na reunião desta
quinta-feira (27/9/07). Foram ouvidos representantes da Corregedoria-Geral
de Justiça do Estado, do Detran/MG, dos cartórios, das revendedoras e
distribuidoras de veículos em Minas.
Para o deputado Délio Malheiros (PV), que pediu a reunião, do ponto de vista
jurídico, não há necessidade da cobrança da nova taxa, uma vez que os
contratos de financiamento de veículos já contêm valores elevados, que são
cobrados pelas instituições financeiras, tais como a Taxa para Abertura de
Crédito (TAC) e despesas contratuais. Sua opinião foi compartilhada pelo
corregedor-geral de Justiça do Estado, desembargador José Francisco Bueno,
que apresentou informações do Código Civil, do Supremo Tribunal de Justiça e
do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que mostram que o registro
em cartório é opcional, portanto desnecessário. Segundo ele, o novo
emolumento irá aumentar a morosidade e as despesas para o consumidor. "Os
bancos já cobram taxas relativas ao registro do contrato que oneram o
comprador. A Corregedoria é contra a iniciativa, pois apenas cria um novo
imposto que não traz nenhum benefício ao consumidor", afirmou.
O chefe do Detran/MG, delegado Oliveira Santiago Maciel, disse que também
não concorda com a instituição da taxa. De acordo com ele, nada é cobrado
pelo registro do veículo no banco de dados do órgão, e que o novo emolumento
irá prejudicar um número grande de pessoas. "Mais de 90% dos veículos
registrados conosco são advindos de planos de financiamento", lembrou.
Cartórios argumentam que taxa protegerá o consumidor
O representante do Instituto Nacional de Registro de Títulos de Documentos,
Dante Ramos Júnior, afirmou que as instituições financeiras impõem ao
consumidor taxas como a TAC e não fornecem cópias do documento ao
consumidor. Para ele, o registro em cartório dará publicidade, eficácia e
autenticidade ao negócio. "A competência para celebrar esses contratos é dos
cartórios e não dos Detrans ou dos bancos. A obrigatoriedade do registro
protegerá o consumidor dos abusos e ilegalidades cometidas pelos
banqueiros", afirmou. Ele disse ainda que sempre foi vontade do legislador
federal fazer com que os contratos de financiamento de veículos fossem
registrados em cartório, "afinal, nós responderíamos por todo e qualquer
prejuízo que o consumidor tivesse em decorrência de contratos mal formulados
ou de má fé", completou.
Sugestão - O presidente do Sindicato dos Concessionários e
Distribuidores de Veículos do Estado de Minas Gerais, Joel Jorge Paschoalin,
disse que a taxa será repassada ao consumidor, que continuará desprotegido.
"Sugiro que seja criada uma lei que obrigue as financeiras a enviarem cópia
do contrato aos consumidores, sem a necessidade que se pague mais por isso.
Afinal, o acesso ao contrato é um direito", alertou. O presidente da
Associação dos Revendedores de Veículos do Estado, Hoberdan Mendes, fez coro
às palavras de Paschoalin e reforçou a idéia de que o registro irá tornar a
concessão do crédito para financiamentos ainda mais lenta.
Ao final da reunião, os deputados Célio Moreira (PSDB) e Walter Tosta (PMN)
disseram que, caso o projeto seja encaminhado à ALMG, novos debates deverão
ser realizados, tendo em vista a complexidade do tema. "Saio dessa audiência
com mais dúvidas do que quando entrei. Minha única certeza é de que não
podemos aprovar nenhuma matéria que onere ainda mais o consumidor mineiro",
ponderou Tosta. O deputado Délio Malheiros afirmou que nada do que foi
apresentado na reunião altera sua posição de que a obrigatoriedade do
registro é desnecessária. "Tenho certeza de que a iniciativa irá
burocratizar e encarecer os valores pagos pelo consumidor", concluiu.
Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Antônio Júlio
(PMDB); Célio Moreira (PSDB); e Walter Tosta (PMN). |