Delegação chinesa é recebida no
Primeiro Ofício de RI em São Paulo
Considerado modelo de segurança jurídica na América Latina, Europa e
países asiáticos, e depois de ter sido indicado pelo Banco Mundial como
referência para a remodelação dos sistemas registrais do Leste Europeu,
o sistema brasileiro de registro de imóveis é um exemplo a ser seguido
também na China.
Na segunda-feira, dia 18 de dezembro, uma delegação de Xangai visitou o
Primeiro Ofício de Registro de Imóveis de São Paulo, para conhecer de
perto o funcionamento do nosso sistema de registro imobiliário. Os
visitantes chineses foram recebidos pelo presidente da Arisp, Associação
dos Registradores Imobiliários de São Paulo, Flauzilino Araújo dos
Santos, pelos diretores do Irib, Instituto de Registro Imobiliário do
Brasil, Sérgio Jacomino, Patricia Ferraz, George Takeda e Márcio
Martinelli, além dos funcionários do Primeiro Registro de Imóveis, Maria
do Carmo Medeiros de Souza, Luís Antonio Medeiros de Souza, Adriano
Damásio e Maria Cristina.
Visita ao Primeiro Ofício de Registro de Imóveis de São Paulo revela
história das garantias reais no Brasil

Flauzilino Araújo dos Santos recebe delegação chinesa em seu cartório
A comitiva chinesa do Composite Security Administration Comission of
Shanghai Pudong New Área, ciceroneada pelo gerente de Relações
Internacionais da Hong Ji – Central Internacional de Intercâmbios, Jean
Apolidorio, e por Li Jian Qiang, da Agência Changhai Marine Shipping,
foi integrada pelo vice-vereador de Xangai, Tian Wei Hua, além dos
membros do Judiciário e do comitê consultivo de Xangai, Ren Jinbao, Li
Hanping, Cui Zhijian, Wang Zhifei, Xu Zhenghua e Luo Haijuan, que vieram
conhecer o funcionamento dos cartórios no Brasil. A visita às
instalações do Primeiro Ofício de Registro de Imóveis de São Paulo e a
reunião com os diretores do Irib permitiram-lhes inteirar-se dos
pormenores do nosso sistema de registro.
Naquele que foi o 1º Cartório de Registro de Hypothecas e Geraes da
Comarca de São Paulo, os visitantes puderam conhecer a história do
registro de imóveis, que completa 160 anos de atividades no Brasil.
Criado em 1865, o Primeiro Ofício de Registro de Imóveis de São Paulo
resguarda grande parte da história dos registros públicos no Brasil e
ainda mantém em seus arquivos o primeiro livro de Inscrições das
Hipothecas. O registrador Flauzilino Araújo dos Santos mostrou às
autoridades de Xangai os primeiros livros, datados do século XIX, de
valor inestimável, que trazem o registro de penhora de escravos dados
como bens, em garantia de empréstimo.

Presidente da Arisp mostra os primeiros livros datados do século XIX
Reunião com diretores do Irib esclarece dúvidas de comitiva chinesa
A China passa por reformas estruturais e abrirá uma nova área
imobiliária em Xangai, razão do interesse por tudo o que diga respeito
ao direito de propriedade, uma vez que um sistema de registro de
direitos imobiliários é ferramenta essencial para uma economia de
mercado funcionar adequadamente.
Interessados na segurança jurídica proporcionada pelo registro de
imóveis no Brasil, os chineses reuniram-se com os diretores do Irib e o
presidente da Arisp para conhecer a operacionalização do sistema. As
autoridades de Xangai perguntaram sobre a investidura na delegação –
realizada mediante concurso público instituído pela Constituição federal
brasileira – e sobre o processo de nomeação para o cargo de oficial de
Registro de Imóveis. Também quiseram saber qual a habilitação exigida
para o concurso público e o grau de concorrência e dificuldade para o
ingresso no cargo.

Diretores do Irib e presidente da Arisp reúnem-se com delegação chinesa
Os diretores do Irib explicaram aos visitantes como são feitas a
descrição de imóveis baseada no cadastro e a retificação. Falaram também
sobre o funcionamento do sistema financeiro e do crédito imobiliário no
Brasil. Os chineses apresentaram muitas dúvidas sobre as garantias
reais, como hipoteca e alienação fiduciária, bem como sobre a forma como
se dá a concentração de informações na matrícula dos imóveis, tais como
os ônus decorrentes de penhora, hipoteca, dívida condominial, além de
anotações sobre sucessão testamentária, etc.
Os membros da delegação chinesa perguntaram também sobre as diversas
especialidades de cartórios; de que maneira são interligadas as
informações entre os cartórios no Brasil; qual o órgão que fiscaliza a
atividade; tributos; emolumentos das serventias em cada estado e se há
subsídio financeiro para a delegação, questões prontamente esclarecidas
pelos registradores paulistas.
Flauzilino Araújo dos Santos apresentou cópias de matrículas de imóveis,
algumas com anotações de hipoteca e outras mais simples, para demonstrar
como a concentração de informações facilita as transações de compra e
venda de imóveis.
Publicação em chinês
O presidente da Arisp elaborou o trabalho Apontamentos sobre o sistema
de registro da propriedade imóvel no Brasil, com versões em inglês,
chinês e português, que foi distribuído aos visitantes. A publicação
aborda em linhas gerais os antecedentes e a organização administrativa
do registro de imóveis no Brasil, a fiscalização do exercício da
atividade e dos atos registrais, a estrutura jurídica dos serviços de
registro de imóveis, a divisão administrativa em circunscrições
imobiliárias delimitadas, a responsabilidade do registrador, a
responsabilidade civil do Estado, os livros, a matrícula e a
informatização dos serviços de registro de imóveis.
O trabalho trilíngüe versou também sobre os diversos enfoques da função
colaboradora do registro de imóveis, quais sejam: prestação da
informação jurídica; colaboração em matéria fiscal no controle sobre a
aquisição de imóveis rurais por estrangeiros; controle referente aos
requisitos legais dos investimentos estrangeiros; colaboração em matéria
de urbanismo e meio ambiente no cumprimento da função social da
propriedade; colaboração com o cadastro de imóveis urbanos e rurais,
igualmente com Juízos e Tribunais, no interesse de pessoas que a lei
considera necessitadas de proteção, além da colaboração com os direitos
do consumidor.
“O Registro de Imóveis brasileiro apresenta-se perante a comunidade como
uma instituição moderna e eficiente, que tem cumprido o papel que lhe é
conferido na estrutura jurídica e econômica do país. Seu principal
produto, que é a segurança jurídica dos negócios imobiliários, tem sido
fator competitivo para atração de capital nacional e de investimentos
estrangeiros, funcionando ainda, como item de diminuição do ‘risco
Brasil’ perante a comunidade internacional, de forma a aumentar a
circulação de bens e dinheiro, aspectos fundamentais na economia do
país”, descreveu Flauzilino Araújo dos Santos no trabalho distribuído
aos visitantes.
O registrador paulista afirmou que o tema exige uma monografia, porém
“como gesto de boas-vindas apresentamos estes breves apontamentos à
elevada apreciação dos ilustres membros da delegação chinesa”.
Vice-vereador quer privatizar o sistema de registros na China para
acompanhar o desenvolvimento e crescimento mundiais

Delegação chinesa despede-se de registradores paulistas
Porta-voz da delegação, o vice-vereador de Xangai, Tian Wei Hua,
expressou seu agradecimento pela recepção em São Paulo e afirmou que “o
sistema de registro de imóveis, efetuado mediante serviços privatizados
extrajudiciais, tal como no Brasil, é de grande valia para o governo,
auxiliando na resolução de problemas e impasses”. O vice-vereador
parabenizou os registradores pela bela carreira, que exige muito estudo,
preparo e concurso público, para chegar à investidura do cargo na
delegação. “O trabalho de vocês é reconhecidamente importante para o
governo e para o povo brasileiro em geral”, concluiu.
O presidente da Arisp pôs à disposição da delegação chinesa a tecnologia
e a experiência brasileiras em registro, e propôs eventual parceria
científica entre os dois países. “Estamos honrados em recebê-los aqui no
Brasil e gostaria de reafirmar que estamos disponíveis para qualquer
tipo de intercâmbio de cooperação técnica com o governo chinês, no
sentido de organizar a implantação do sistema de registro de imóveis em
Xangai”, ratificou.
Curioso a respeito do sistema de registros da China, Flauzilino A.
Santos questionou o vice-vereador chinês a respeito da segurança da
compra e venda em seu país. “A compra e venda de imóveis também é feita
no cartório, mas o contrato é apenas uma comprovação de negociação, caso
haja qualquer problema é preciso recorrer ao fórum”, respondeu Tian Wei
Hua, explicando que o sistema na China é precário. “Vocês têm 160 anos
de registro de imóveis, ao passo que nós temos somente 20 a 30 anos. O
governo chinês interfere em muitos setores – cartório, registro, vários
órgãos são governamentais; como vice-vereador eu pretendo sugerir ao
governo que privatize o sistema de registros na China, para acompanhar o
crescimento mundial. Por isso viemos aqui: para levar as informações
sobre a segurança jurídica do registro de imóveis e o mecanismo
operacional do sistema privatizado”.
A diretora de assuntos legislativos, regularização fundiária e urbanismo
do Irib, Patricia Ferraz, sugeriu que o vice-vereador de Xangai procure
conhecer o sistema espanhol, considerado um dos melhores do mundo.
O diretor de relações internacionais do Irib, Sérgio Jacomino – que
firmou parcerias importantes com organismos internacionais e promoveu no
Brasil, em gestão na presidência do Irib, o XV Congresso Internacional
de Direito Registral, Cinder 2005 –, sugeriu ao porta-voz da delegação
chinesa que entrasse em contato com o Cinder em Madri. “O organismo é
referência mundial de organização e implantação de registros na Rússia,
na Ásia, além de outros países em desenvolvimento”, informou Jacomino.
Patricia Ferraz acrescentou que o Cinder possui parceria com o Banco
Mundial para a implantação de sistemas registrais com vistas a
impulsionar o desenvolvimento econômico do país mediante o crescimento
de negócios imobiliários.
Muito agradecido pelas informações, Tian Wei Hua revelou: “Temos
investimentos de bilhões de dólares em construções na nova área de
Xangai. O governo liberou o crescimento econômico, a China abriu as
portas para os investimentos e o desenvolvimento mundiais, portanto é
preciso haver segurança jurídica nos negócios. O modelo brasileiro de
sistema de registros daria mais segurança jurídica às transações
imobiliárias na China”.
Encerrando a visita, houve a tradicional troca de presentes entre a
delegação chinesa e os registradores paulistas.
(Reportagem: Patrícia L. Simão, assessora de imprensa do Irib; fotos
Carlos Petelinkar)
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