No momento em que o governo brasileiro anuncia a imposição de limites mais
rígidos na compra de terras rurais por estrangeiros, aguarda votação na
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado a criação da
Agência Reguladora Territorial Rural, destinada a fiscalizar, monitorar,
controlar e autorizar transações comerciais de imóveis agrários em todo o
Brasil.
Com base em parecer da Advocacia Geral da União (AGU), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva acatou interpretação de que a compra de terras por
empresa estrangeira deve estar restrita às condições previstas na
Lei 5.709/1971. Esse parecer, publicado no Diário Oficial da União no
último dia 23, revoga interpretação de 1998 da própria AGU, que retirava
quaisquer restrições à aquisição de imóveis rurais no Brasil por empresas
brasileiras com controle acionário de estrangeiros.
A preocupação do governo brasileiro em restringir as vendas de terras a
estrangeiros é a mesma anunciada pelo senador Jayme Campos (DEM-MT), na
defesa do projeto (PLS
401/08) que cria a Agência Reguladora Territorial Rural.
Jayme Campos afirma que o setor imobiliário rural, notadamente em estados
que possuem áreas de floresta amazônica, precisa de regulação e controle
permanente para enfrentar a crescente especulação mundial com
empreendimentos comerciais nesse segmento econômico.
Em defesa do projeto, ele diz que, somente na Amazônia, existem 3,1 milhões
de hectares de terras nas mãos de empresas e pessoas físicas de outras
nacionalidades, sendo esta área equivalente ao estado de Alagoas.
O senador também diz que é geral a percepção de que a fertilidade das terras
brasileiras virou alvo da cobiça internacional. Em sua opinião, a própria
preservação do bioma exige que se faça um controle mais rígido e criterioso
na transferência de propriedades rurais para empresas e conglomerados
estrangeiros.
"Urge, portanto, que se estabeleça um marco regulatório para transações
imobiliárias rurais, sobretudo se levarmos em conta que tal atividade há
muito deixou de ser um negócio de roceiros do interior e passou a ser um
setor estratégico para o desenvolvimento e o equilíbrio do país", diz o
senador, na justificação do projeto.
AGU
O crescente interesse de estrangeiros pelas terras brasileiras também
norteou a elaboração do novo parecer pela Advocacia Geral da União acatado
pela Presidência da República. A AGU diz ter levado em consideração
alterações no contexto social e econômico do Brasil, além da grande
valorização das commodities agrícolas, a crise mundial de alimentos e o
desenvolvimento do biocombustível.
Entre outras
restrições previstas na Lei 5.709/1971, o parecer da AGU anuncia que o
registro de compra será feito em livros especiais nos cartórios de imóveis,
constando a informação de que a propriedade pertence a uma empresa
estrangeira. A transação deverá ser comunicada ao Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), para efeitos de fiscalização. |