A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou nesta
terça-feira (24) proposta de emenda à Constituição que acaba com a exigência
de separação prévia para a realização do divórcio. Atualmente, para entrar
com processo de divórcio, a pessoa interessada precisa provar a separação
judicial por mais de um ano ou a separação de fato por mais de dois anos. A
matéria irá a exame final em Plenário e, se aprovada, será promulgada pelas
Mesas das duas Casas do Congresso.
O texto aprovado (PEC
28/09) veio da Câmara dos Deputados, no formato de um substitutivo
apresentado pelo deputado Joseph Bandeira (PT-BA), para consolidar propostas
lideradas pelos colegas Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) e Sérgio Barradas
Carneiro (PT-BA). Os autores apresentaram suas propostas acolhendo sugestão
do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDF), entidade que reúne
juízes, advogados, promotores de Justiça, psicólogos, psicanalistas e outros
profissionais que atuam no campo das relações de família.
Temores da Igreja
Com parecer pela aprovação, a PEC foi relatada na CCJ pelo senador
Demosténes Torres (DEM-GO). Segundo ele, a exigência da separação prévia foi
uma medida surgida como solução para acomodar pressões da Igreja Católica
contra a aprovação do divórcio, oficialmente instituído no país em 1997.
Conforme o relator, havia o temor, por parte da Igreja, que a "família
acabasse" com o advento do divórcio. Contestando essa visão, ele disse que o
divórcio serve apenas aos casais que não querem mais viver juntos e que,
assim decidindo, precisam ficar isentos das dificuldades atuais.
- Não tem que ter tempo prévio de separação, pois isso só enriquece
cartórios e faz com que justiça se encha de processos - afirmou.
Para Demosténes, a PEC reconhece que a sociedade e seus costumes mudaram. Na
sua avaliação, o divórcio não veio para "atrapalhar" as famílias. Ao
contrário, ele acredita que contribui para consolidar essa instituição, pois
garante condições aos casais "que não deram sorte" num primeiro casamento
constituírem novos vínculos conjugais. Em apoio à PEC, o senador Valter
Pereira (PMDB-MS) disse que a exigência da prévia separação, antes do pedido
de divórcio, é um "obstáculo" que não faz mais sentido.
- Havia uma reação muito grande ao divórcio quando se instituiu essa
obrigatoriedade, mas a cultura mudou e esse óbice não existe mais -
reforçou.
O divórcio foi instituído a partir da sanção de lei de iniciativa do
falecido senador Nelson Carneiro (Lei
6.515/77), que liderou demorada campanha em favor dessa inovação no
Direito nacional, mas incluindo o arranjo da separação prévia. A separação
judicial apenas dispensa os cônjuges dos deveres de coabitação e fidelidade
recíproca (artigo 1.576 do Código Civil). Já o divórcio põe fim ao casamento
e aos efeitos civis do matrimônio (artigo 24 da Lei 6.515/77), permitindo
novo casamento.
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