O relator da subcomissão que analisa a compra de terras brasileiras por
estrangeiros, deputado Beto Faro (PT-PA), disse nesta quarta-feira que é
favorável a um recadastramento obrigatório de propriedades rurais no Brasil,
para que se verifique quantas delas estão nas mãos de pessoas ou empresas
estrangeiras.
O recadastramento seria obrigatório para propriedades acima de uma
determinada área de extensão, e abrangeria as terras adquiridas entre 1997 e
2010. Durante esse período, por uma interpretação da legislação, os
cartórios de registros de imóveis se viram desobrigados de registrar e
comunicar ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) as
terras que foram compradas por estrangeiros. Por isso, o governo não sabe ao
certo a quantidade atual.
Levantamento do Incra indica que 34.371 propriedades rurais pertencem hoje a
estrangeiros ou a empresas brasileiras controladas por estrangeiros. Mas o
número é, com certeza, maior que os dados oficiais.
A sugestão do recadastramento foi feita pelo juiz da Corregedoria Nacional
de Justiça Ricardo Chimenti. Ele participou do debate promovido pela
subcomissão, que é vinculada à Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
Chimenti ressaltou que um parecer da Advocacia Geral da União foi o
responsável pela falha no encaminhamento dos registros ao Incra. "Conforme a
Lei 5.709/71, a partir de determinada dimensão (três módulos de
exploração indefinida), quando adquirida por estrangeiro, essa terra tinha
que estar cadastrada em registros próprios, tanto no Incra quanto nos
cartórios imobiliários. Como isso não foi feito num período, em razão de uma
orientação da própria Advocacia Geral da União, a ideia é que esse
recadastramento fosse feito em cima de terras a partir dessas medidas, de
2010 até 1997", disse.
Estrutura dos cartórios
Beto Faro afirmou que, antes do recadastramento, é necessário adequar as
estruturas dos cartórios de registros de imóveis. "Há necessidade de uma
reformulação total no sistema”, destacou, alertando que não será simples
preparar os cartórios para “fazer esse registro e identificar exatamente
qual é o capital internacional que está entrando nesse sistema”.
O presidente da subcomissão, deputado Homero Pereira (PR-MT), afirmou que os
parlamentares precisam saber como são as leis que tratam da compra de terras
por estrangeiros em outros países. O objetivo é comparar as diferentes
legislações com a brasileira, para que os deputados façam prevalecer o
princípio da reciprocidade quando forem propor uma nova lei.
O coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do Ministério
das Relações Exteriores, Milton Rondó, se comprometeu a enviar à
subcomissão, em 15 dias, informações sobre as normas de diversos países.
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