A
declaração de isento do Imposto de Renda (IR) pode estar com os dias
contados.
A Receita Federal estuda acabar com a obrigatoriedade de prestação de
contas, que todo ano, a partir de setembro, mobiliza milhões de brasileiros,
sobretudo os de baixa renda, dispensados de declarar. Quem não se comunica
com o Fisco tem o CPF suspenso. Uma instrução normativa sobre a mudança está
no forno e aguarda só a decisão final da cúpula do órgão, podendo ser
anunciada ainda esta semana. Outra medida de grande impacto, igualmente em
fase final de estudo, prevê a inclusão do número do CPF já na certidão de
nascimento, gratuita.
Na prática, o cidadão passará a existir para o Fisco assim que nascer. Mas o
CPF somente será ativado para fins fiscais quando a pessoa crescer (tiver
renda, fizer transação imobiliária ou virar sócio de empresa), explicou um
técnico.
Para pôr a idéia em prática, a Receita depende de parecer favorável da
Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pelos
cartórios.
Mas a minuta do protocolo de intenção já está pronta. A proposta é que a
novidade comece no Distrito Federal (DF), num projeto-piloto, e depois seja
levada para o resto do país.
Na avaliação de técnicos da Receita, a declaração de isento — criada há dez
anos para limpar o banco de dados do CPF, que existe desde 1969 — acabou
virando um problema. Muita gente não dispõe de internet e precisa se
deslocar às agências dos Correios, lotéricas, correspondentes bancários e
bancos oficiais para enviar a declaração, tendo de arcar com custos.
Uma das justificativas para acabar com a declaração de isento é que o Fisco
já dispõe de mecanismos de controle, como declarações de imposto dos
empregadores e dados relativos a transações imobiliárias, com cartão de
crédito e de constituição de empresas. Para manter o cadastro em dia, a
idéia é harmonizar o banco de dados da Receita com o Cadastro Nacional de
Informações Sociais (CNIS) do Ministério da Previdência, que é atualizado
constantemente com informações sobre óbitos fornecidas pelos cartórios.
Também está sendo levado em consideração que a exigência do Fisco acaba
retirando dinheiro da camada mais pobre da população. Nas agências dos
Correios, o documento custa R$ 2,40; nas lotéricas, correspondentes
bancários e bancos oficiais, R$ 1. Quem deixa de cumprir a obrigatoriedade
gasta R$ 5,50 para regularizar o CPF.
Receita Federal prevê que 66 milhões farão declaração A previsão da Receita
é que mais de 66 milhões de pessoas estariam obrigadas a fazer a declaração
de isento esse ano. O universo poderá chegar a cem milhões — quatro vezes o
número de contribuintes a entregar o Imposto de Renda em 2008 — se forem
considerados os casos em que o documento ficou pendente de regularização e
os ameaçados de suspensão. As pessoas que receberam menos de R$ 15.764,28 no
ano passado) ou se encaixam em categorias especiais são obrigadas a fazer a
declaração de isento.
O fim da cobrança não significa, porém, que o Fisco vai relaxar o controle.
Para isso, está buscando a parceria dos cartórios para incluir o CPF na
certidão de nascimento.
— A pessoa já vai nascer com o número do CPF. Vai melhorar o cadastro da
Receita e vai melhorar também para os cartórios, evitando que uma pessoa
seja registrada mais de uma vez — disse o presidente da Associação Nacional
dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), Rogério Bacellar, para quem
a medida é fácil de implementar.
— A medida vai robustecer o registro civil e o CPF — disse Hércules Benício,
membro da Anoreg, que ajudou a elaborar a minuta do convênio.
O Globo-RJ
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