A Câmara analisa a Proposta de Emenda à Constituição 361/09, do deputado
Raul Jungmann (PPS-PE), que autoriza os governos estaduais a desapropriarem
terras para a reforma agrária. Atualmente, essa prerrogativa é exclusiva da
União.
A PEC prevê que os estados poderão contar ainda com repasses da União,
inclusive de títulos da dívida agrária, para a execução dessas
desapropriações. Além disso, as operações de transferência de imóveis
desapropriados para reforma agrária passarão a ser isentas de pagamento de
impostos federais, estaduais e municipais.
A proposta cria o Sistema Nacional de Reforma Agrária, que terá entre seus
integrantes a União, estados e municípios, além de organizações sociais
legalmente constituídas e sem fins lucrativos, representantes dos
trabalhadores, dos produtores rurais, das comunidades indígenas e daquelas
remanescentes de quilombos.
Cobrança do ITR
A PEC ainda inclui entre as ações de competência dos municípios prestar
assistência técnica e garantir a infraestrutura necessária à implementação
dos projetos de reforma agrária em âmbito local.
Estabelece também que a União poderá transferir para os estados e o Distrito
Federal a tarefa de arrecadar e fiscalizar a cobrança do imposto sobre a
propriedade territorial rural.
Esse imposto deverá ser dividido ao meio entre a União e as unidades da
federação, mas para que essas últimas tenham acesso a ele, precisarão criar
por lei um fundo estadual específico para a execução do Plano Nacional de
Reforma Agrária. Esse plano nacional, por sua vez, deverá ser aprovado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Modelo centralizador
Segundo Raul Jungmann, que foi ministro do Desenvolvimento Agrário entre
1996 e 2002, o modelo de reforma agrária vigente no País ainda é aquele
criado na década de 1960 pelo regime militar. Um modelo centralizador e
preocupado com a segurança nacional e que excluiu estados e municípios de
sua gestão e operacionalização.
"A Constituinte de 1988 manteve as mesmas regras, mas quase 50 anos depois
de instituídas precisamos reconhecer que elas se tornaram ineficazes e pouco
se conseguiu avançar. O modelo encontra-se esgotado, levando à crescente
violência no campo", explica.
Na sua opinião, essa violência ocorre porque grupos de pessoas e
organizações que postulam o direito à terra não se conformam com a lentidão,
por falta de recursos, dos programas governamentais de colonização e de
assentamento.
Jungmann reconhece que as mudanças propostas podem ser consideradas
radicais, mas ele aponta que o País só tem a ganhar com a descentralização e
ela só será possível com a implantação de um Sistema Nacional de Reforma
Agrária e a repartição do Imposto Territorial Rural.
"Com essas inovações os estados poderão assumir essa função com o apoio dos
municípios, que poderão colaborar com assistência técnica, saúde e educação
para as famílias assentadas, além de segurança e infraestrutura viária para
essas localidades", acrescenta.
Tramitação
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania analisará a
admissibilidade da proposta. Se aprovada, uma comissão especial vai
analisar o mérito. Depois, a PEC será votada em dois turnos pelo Plenário.
Íntegra da proposta:
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PEC-361/2009
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