A comunidade quilombola Brejo dos
Crioulos, em Minas Gerais, teve o Relatório Técnico de Identificação e
Delimitação (RTID) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) nesta segunda-feira (24), no Diário Oficial da União. Esse é um
importante passo rumo à regularização da área, localizada nos municípios de
São João da Ponte e Varzelândia, no norte do estado.
O RTID é um documento minucioso, que inclui o relatório antropológico da
comunidade e o levantamento de toda a cadeia dominial dos imóveis
localizados na área pleiteada. No caso de Brejo dos Crioulos, a área soma
mais de 17 mil hectares. Nela foi identificada a existência de mais de 100
imóveis particulares.
“A regularização de territórios quilombolas compara-se ao processo de
reforma agrária, no que diz respeito à complexidade da legislação. Mesmo
assim, temos feito todo o possível, dentro de nossa capacidade operacional e
obedecendo aos trâmites legais, para atender às demandas crescentes dessas
comunidades no estado”, afirmou o superintendente do Incra em Minas Gerais,
Marcos Helênio Pena.
Desde 2003, com a publicação do Decreto Presidencial 4.887, que regulamenta
o procedimento para reconhecimento e titulação das terras ocupadas por
remanescentes dos quilombos, o Incra é o órgão competente para lidar com a
questão.
Com a publicação e divulgação do RTID, abre-se prazo de 90 dias para a
contestação dos interessados – detentores de domínio, ocupantes e
confinantes do território analisado – através do encaminhamento de recursos
à Superintendência Regional do Incra em Minas Gerais.
O processo administrativo estará à disposição dos interessados para consulta
na sede do Incra/MG, em Belo Horizonte (Avenida Afonso Pena, 3.500). Cópias
do processo também serão encaminhadas para outros órgãos, como a Fundação
Nacional do Índio (Funai), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Cultural Palmares, para
análise e manifestação.
Como é o processo
Se o território quilombola incidir sobre imóvel(is) com título de domínio
particular, a obtenção se dá mediante por desapropriação por interesse
social (indenizada) ou por compra e venda. Somente após a realização de
todas as providências indicadas pela legislação, incluindo a consulta a
órgãos públicos e a contestação dos interessados, será feita a demarcação e
a titulação do território quilombola, com a outorga do título coletivo e
pró-indiviso, em nome da associação comunitária. Os títulos das terras serão
inalienáveis, imprescritíveis e impenhoráveis.
O Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas do Incra/MG conta com
uma equipe multidisciplinar composta por uma antropóloga, dois engenheiros
agrônomos, um procurador federal e dois agrimensores. Além de Brejo dos
Crioulos, outros oito processos estão em andamento: o das Comunidades
Família dos Amaros, Mumbuca, Gorutuba, São Domingos, Mangueiras, Luizes,
Machadinho, e Marques.
Atualmente, há 88 processos de regularização de territórios quilombolas
instaurados na Superintendência Regional do Incra em Minas Gerais. O número
coloca o estado em terceiro lugar quanto à existência de comunidades
quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares.
|