Criptografia, RFID e banda larga. Todas serão tecnologias necessárias ao
uso do cartão que servirá de suporte à nova identidade dos brasileiros.
O novo Registro de Identidade Civil (RIC), documento lançado no fim do
governo Lula e que começa a vigorar este ano, gradativamente substituirá as
atuais cédulas do RG. Com investimentos de cerca de R$ 90 milhões custeados
pelo Ministério da Justiça, os primeiros cartões serão expedidos em 2011
pela Casa da Moeda do Brasil. Mas como serão eles? Que tecnologias usará
além do chip contendo informações como gênero, nacionalidade, data de
nascimento, foto, filiação, naturalidade, assinatura, órgão emissor, local
de expedição, data de expedição e data de validade do cartão, e informações
referentes a outros documentos, como título de eleitor, CPF, etc?
As normas do Registro de Identidade Civil (RIC) publicadas no Diário Oficial
em 2010 determinam que cartão deverá ser feito de policarbonato (um plástico
altamente resistente) e terá um certificado digital. Além disso, terá dois
chips. Um servirá para aplicações que exijam contato, ou seja, a inserção do
RIC em máquinas de leitura - catracas, ATMs, etc. E o outro será equipado
com padrão RFID, para leitura de dados por radiofrequência, apenas por
aproximação, como fazem algumas chaves de carros mais modernos. Outra
exigência do Ministério da Justiça, coordenador do projeto, é a de que tanto
o cartão como os chips durem ao menos dez anos.
A biometria é gravada numa camada interna do cartão, queimada a laser. E os
chips trazem recursos de autodestruição das trilhas, no caso de tentativa de
clonagem ou invasão. Isso é importante, porque a chave privada do certifi
cado digital da pessoa estará dentro do chip. “Se alguém tentar tirá-la de
lá, o processador tem uma resistência que apaga os dados”, diz Martini. "O
cartão, essa chapinha minúscula, é um computador. Tem memória, sistema de
arquivo, processador, um criptoprocessador e um sistema de gravar arquivo,
para gerar o par de chaves com números complexos."
Os certificados digitais brasileiros usam assinaturas digitais assimétricas,
baseadas nesse par de chaves. Uma chave (na verdade, uma combinação
numérica) é pública e circula entre as instituições com as quais o cidadão
se relaciona; a outra é privada, e só a pessoa tem. A conferência da
assinatura acontece porque a sua chave pública só combina com o seu par
privado. E o nível de segurança depende do tamanho da chave. De acordo com
Martini, atualmente, chaves de 1.024 bits exigem tanto poder e tempo
computacional para serem quebradas que são consideradas ideais em termos de
segurança. E aquelas de 2.048 bits são virtualmente inquebráveis.
As chaves criptográficas de 512 bits, contudo, já não são recomendadas,
devido ao avanço do poder de processamento das máquinas. Mesmo assim, seria
preciso um cluster com dez computadores trabalhando ininterruptamente por
cinco meses, para quebrá-la. “Assim, para compensar movimentar um custo
computacional monumental como esse, é preciso ter muita coisa em jogo -
segredos industriais de milhões de dólares, por exemplo. Ou seja, muito
improvável”, analisa Martini.
O fato é que, com o tempo, a computação ganha poder e os algoritmos precisam
ganhar maior complexidade. O presidente do ITI lembra que os cartões têm
vida útil de dez anos, e também precisarão ser renovados periodicamente. Uma
das intenções, diz, é propor estender a validade das certificações para
cinco anos (atualmente, são três, como em Portugal), entre outros motivos,
por conta do tamanho do País e da sua população. Ou, completa Paulo Airan,
do Ministério da Justiça, alterar as normas que só permitem renová-las uma
vez, para que isso possa ser feito repetidas vezes.
O fator humano
O ITI é responsável pela auditoria nas empresas que vendem certificações
digitais. Esse processo cobre “um conjunto exaustivo de temas”, segundo
Martini, mas “com muito mais foco no fator humano do que no tecnológico”. “É
nas pessoas”, diz ele, “que está o maior risco de fraude”. Tokens, leitores
e outros dispositivos têm hoje muita qualidade. O perigo está na hora da
autenticação ao vivo, na presença da pessoa, na coleta dos dados - “se o
agente de registro é confiável ou se pode ser corrompido”.
Atualmente, as auditorias são anuais nas nove certificadoras de primeiro
nível (chamadas AC), que atuam no Brasil. Isso significa que elas têm o
encargo de autoridade certificadora, com sala-cofre, pessoal especializado,
e podem credenciar e auditar as certificadoras de segundo nível, que atuam
no varejo. Como resultado das auditorias, é publicada mensalmente ou
semanalmente a LCR, Lista de Certificados Revogados.
Banda larga, sempre ela
Outra necessidade técnica do projeto RIC será a comunicação de dados. Cada
vez que for preciso consultar a base de imagens de impressões digitais,
localizada em Brasília, a imagem de um dedo vai trafegar pela rede. No auge
da operação, espera-se 80 mil consultas por dia.
O secretário-executivo do Comitê Gestor do RIC, Paulo Airan, do Ministério
da Justiça, diz que o tema ainda está sendo discutido. “A princípio deve ser
contemplado num processo de licitação ou ser objetivo de uma política de
convênio com o ministério”. Ele lembra que há, ainda, a Infovia, rede
baseada em Brasília, e, em tese, todos os estados devem ter link com o
Infoseg, sistema de informação da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Também não se sabe, dentro do Comitê Gestor, que papel poderá desempenhar a
Telebrás.
Para consultar as especificações completas do cartão RIC:
http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=31&data=27/09/2010 |