SÃO PAULO - A Advocacia-Geral da União (AGU) deu o primeiro passo
para limitar a compra de terras por empresas brasileiras de capital
estrangeiro no Brasil. O consultor-geral da União, Ronaldo Vieira Araújo
Júnior, deu um parecer técnico revendo a norma vigente desde 1994, que
liberava completamente as aquisições. O texto precisa ser aprovado pelo
advogado-geral, José Antonio Dias Toffoli, e pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. A expectativa da AGU é que a decisão saia em, no máximo, um
mês.
Hoje, pelo menos um território equivalente ao Estado da Paraíba - ou 5,5
milhões de hectares - está nas mãos de estrangeiros, segundo o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Mas esse número já deve
ser bem maior, porque os donos não são obrigados a declarar a nacionalidade
quando registram suas terras. Além disso, nem sempre os cartórios cumprem as
normas que exigem a anotação dos registros de estrangeiros em livro
auxiliar.
A decisão de rever o parecer partiu do próprio governo, segundo Araújo
Júnior. "A questão estava adormecida havia 15 anos. No ano passado, com o
descontrole da aquisição de terras por grupos estrangeiros, o governo ficou
preocupado e consultou a AGU para saber se uma revisão era viável", explica
o consultor. "A questão está solucionada no âmbito da AGU, mas a palavra
definitiva é do presidente."
Caso Lula aprove o texto, as empresas brasileiras de capital estrangeiro
passam a ter as mesmas restrições impostas hoje aos estrangeiros
não-residentes no País. A principal delas diz respeito ao tamanho das
propriedades. A área rural não pode, por exemplo, ultrapassar um quarto do
território do município onde está o imóvel. Em regiões delimitadas pelo
Incra, o futuro dono vai precisar de autorização do instituto caso queira
comprar trechos a partir de 15 hectares, dependendo da localização do
imóvel.
A lei que limita a compra de terras por estrangeiros foi criada no regime
militar. Em 1994, o texto recebeu uma reinterpretação, que excluiu as
empresas brasileiras de capital estrangeiro desse grupo. "Com a crise dos
alimentos, a alta das commodities e o desenvolvimento da tecnologia do
etanol, o valor das terras cresceu muito. São fatores que não existiam há
dez anos", afirma Araújo Júnior. "O País precisa definir sua política
fundiária. Um dos objetivos fundamentais da Constituição é a soberania
nacional. É uma regra encontrada nos EUA e no México, por exemplo." As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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