Brasília.
O secretário-adjunto da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Rogério
Sottili, afirmou que o problema do sub-registro de nascimento é uma
prioridade do governo.
— O governo federal, em parceria com o Judiciário e a associação dos
cartórios, quer enfrentar com mais rigor o problema do sub-registro. Para
isso, formou esse acordo de cooperação para encontrar alternativa nos
lugares onde a população não tem acesso ao cartório, e as taxas de
sub-registro são as mais altas do país — afirmou Rogério Sottili.
O secretário-adjunto reconheceu que, nos municípios onde os cartórios não
chegam, a dificuldade dos pais para registrar seus filhos é enorme.
— Os cartórios são os delegados constitucionais para fazer o registro. Isso
significa que, onde o cartório não chega, as pessoas não podem registrar
seus filhos.
Estado deve ressarcir cartórios, diz Anoreg
De acordo com a Associação Nacional dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg),
para compensar o gasto dos cartórios civis, os governos estaduais deveriam
criar fundos para garantir o ressarcimento, o que não ocorre. Segundo
Rogério Bacelar, presidente da Anoreg, os próprios cartórios pagam uma taxa
para sustentar os menos rentáveis.
O juiz Murilo Kieling, do Tribunal de Justiça do Rio e que trabalha com esse
tema no Conselho Nacional de Justiça, diz que a maior parte dos cartórios
civis funciona precariamente e quase todos são deficitários.
Kieling afirma que o concurso público para exploração de cartório de
registro civil não atrai mais candidatos.
O serviço do cartório no Brasil é privatizado
— Ninguém quer se habilitar a pegar um cartório de registro porque quase não
dá rendimento — disse Kieling.
CNJ pode adotar medidas de estímulo Para o juiz, uma das saídas possíveis é
alterar as atribuições e serviços oferecidos por esses cartórios. Para
estimular a instalação dessas unidades nos 422 municípios, o CNJ estuda
autorizar que esses cartórios atuem também com registro de imóveis e de
notas.
A falta de registro atinge também tribos indígenas, comunidades ribeirinhas,
quilombolas, bolsões de pobreza de áreas metropolitanas, acampamentos de
sem-terra e população de rua. Em alguns estados, como no Amapá, o Ministério
Público atua em campanhas de registro.
Naquele estado, recentemente uma família inteira — os pais e quatro filhos,
todos já adultos — foi registrada de uma vez só. Eles moravam na beira do
rio e viviam isolados da cidade.
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