Grupo de estelionatários aplicava golpe em
empresas devedoras de títulos protestados, usando o nome da Corregedoria de
Justiça de Minas. Prejuízo é estimado em R$ 500 mil
Estelionatários paulistas que agiam em Belo Horizonte vinham usando o nome
da Corregedoria Geral de Justiça de Minas para aplicar golpes, que
resultaram em prejuízo de, pelo menos, R$ 500 mil a empresas devedoras de
títulos levados a protesto. Seis suspeitos foram presos e dois são
procurados. As investigações da Delegacia de Investigação de Fraude
começaram em janeiro, mas suspeita-se que o bando agia desde 2008. Havia
ainda ligação dos criminosos com outra quadrilha, especializada em
confeccionar talões de cheque em nome de terceiros, para depósitos em contas
bancárias de “laranjas”.
De acordo com o delegado Denilson dos Reis Gomes, a Polícia Civil foi
alertada pelo Tribunal de Justiça, em janeiro, pedindo para apurar ações em
que estelionatários se apresentavam em nome da instituição, como se fossem
funcionários de cartórios de protesto de títulos e documentos de Belo
Horizonte. “Eles abordavam devedores de títulos, que foram levados a
protesto, passando-se por funcionários do Cartório Centralizado de Cobrança,
órgão que não existe. Eles avisavam aos devedores que o título estava lá
para ser protestado até ao meio-dia daquela data. A vítima, que já sabia que
o título tinha sido levado a protesto, quitava o valor, desesperada. Para
isso, os golpistas solicitavam um endereço de e-mail para o envio de
formulário autorizando o pagamento, contendo timbre da Corregedoria de
Justiça e, inclusive, o brasão da República”, conta o delegado.
Os dados dos títulos de cobrança eram verdadeiros, extraídos de notificações
publicadas em jornais. “Os golpistas chegaram a assinar um determinado
jornal e faziam o acompanhamento on-line. Tinham acesso privilegiado e
rápido. Tão logo esses títulos eram levados a protesto, eles faziam contato,
via telefone, com as vítimas, que, na verdade, acabaram pagando a dívida em
dobro”, disse Denilson. No formulário enviado por e-mail, constava o número
da conta bancária para depósito do dinheiro. Os 17 “laranjas” já
identificados recebiam de 20% a 40% do valor depositado. Os estelionatários
faziam os saques instantaneamente.
As investigações se concentraram em Belo Horizonte, mas o bando também agia
em Salvador (BA), Brasília (DF) e Cuiabá (MT), entre outras capitais. A
polícia mineira acabou chegando a uma segunda quadrilha, mas por meio de um
ponto em comum dos fraudadores. Um deles, Amauri Pontenciano Wilson, de 27
anos, se passava por tabelião responsável. “Vimos que ele emprestou sua
conta bancária a outras quadrilhas que fabricavam cheques de terceiros,
preenchidos e depositados em contas de laranjas. No dia seguinte, a
quadrilha ia com cartões e senhas sacar o dinheiro. Os valores eram baixos,
para que pudessem retirá-los em caixas eletrônicos”, detalhou o delegado.
Mais bandos Daniel Dantas Afonso, de 46 anos, Marcos Pires Lopes, de 30,
Amauri Pontenciano Wilson, de 27, Roseli Borges Raposo, de 46, Elen Rúbia de
Caldas, de 26, e Eliana Pedrosa, de 46, foram presos em São Paulo por
policiais mineiros. Se condenados, podem pegar de três a 13 anos de prisão
pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica.
Outros dois suspeitos, Francisco Evaristo Lima e José Maria Malacrida, são
procurados. Amauri tinha passagem pela polícia por assalto e, Marcos,
receptação.
A polícia mineira já sabe da atuação paralela de outras quadrilhas –
concorrentes da que foi desarticulada. “Acreditamos que elas praticam outros
golpes, não somente na fabricação de cheques, mas de pagamento de boletas.
Não tivemos ainda como aprofundar as investigações, mas eles fazem
pagamentos de títulos com cheques fraudados”, disse Denilson. Os cheques
falsificados tinham dados corretos dos correntistas lesados, inclusive os
códigos de barra, enganando até mesmo os bancos. “Eles conseguiam
informações bancárias privilegiadas, mas como eles obtinham isso ainda não
sabemos”.
Com os suspeitos foram apreendidos dois notebooks, agendas, cinco celulares,
vários chips, 784 folhas de cheques confeccionadas pelo bando, tintas
especiais para a impressão do material, cartões bancários e de crédito, além
de uma máquina para débitos e duas canetas microcâmeras. |