Advogado de lésbicas que encerraram 13 anos de relação invoca decisão do
STF e, na mesma ação, consegue reconhecimento e dissolução de união
PAULO SALDAÑA - O Estado de S.Paulo
Depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer a união estável
homoafetiva, gays agora usam esse direito para conseguirem se separar
legalmente. Em Franca, interior de São Paulo, um casal de lésbicas garantiu
a separação dos bens na Justiça depois de uma relação que durou 13 anos.
Segundo o movimento gay, o caso é o primeiro no País.
A aposentada Teresinha Geraldo Lisboa, a Terê, de 51 anos, e a gráfica
Márcia Pompeu Sousa, de 47, viviam juntas desde 1998. "Chegamos a um
consenso, era melhor nos separarmos. Mas queríamos deixar tudo certinho na
Justiça", conta Terê.
O casal procurou o advogado Mansur Jorge Said Filho. Como elas nunca haviam
oficializado o casamento, o advogado compôs uma ação de reconhecimento da
união e sua dissolução, com partilha de bens. "Eu invoquei decisão do STF no
sentido de considerar aplicação constitucional do Código Civil", diz Mansur.
A Vara de Família de Franca homologou, na semana passada, o acordo proposto
sem contestações. "Na prática, já nos satisfez. O Ministério Público também
foi a favor com o reconhecimento e a partilha", disse Mansur.
Em jogo, frutos do casamento, havia um carro e duas casas em Franca - embora
a divisão fora acordada amigavelmente antes da ação. O carro ficou com
Márcia, uma das casas com Terê e a outra, ainda em reforma, será vendida e o
dinheiro, dividido.
'Exemplo.' O presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São
Paulo, Fernando Quaresma Azevedo, afirma que não há notícias de outros casos
após a decisão do STF. "A sociedade foi se modificando e se ajustando. Antes
nem casais héteros se separavam. Com o posicionamento do Supremo, agora veio
esse direito."
Terê afirma que a ação pode servir de exemplo para casais irem atrás de seus
direitos. "Tomara que sirva para que outros gays saiam do armário." Moradora
de Franca há oito anos, ela faz trabalhos sociais pela ONG Tudo Pelo Social.
Em 2008, concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal e perdeu. A culpa, para
ela, foi do preconceito. "Na campanha, dizia: 'Não estou sozinha, mas com
minha esposa Márcia'. Isso deu uma grande repercussão e me falavam que não
votaram em mim porque eu era gay."
As duas se conheceram no início da década de 1990, quando trabalhavam no
Belenzinho, zona leste da capital. Em 12 de junho de 1998, Dia dos
Namorados, começou o flerte. No dia seguinte, o primeiro beijo. "Depois,
nunca nos separamos, uma lutando pela outra." Mas os problemas cresceram e
sufocaram o amor. Só restou a separação. "Não penso em ter ninguém, eu a
amo, mas o melhor foi isso."
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