Após aprovar o fim do prazo para a realização do divórcio, deputados
ainda podem analisar outros 30 projetos sobre o tema.
A Câmara aprovou neste ano a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 413/05,
que acaba com o prazo exigido para a realização do divórcio. Outros 30
projetos, no entanto, também tratam do assunto e poderão ser votados pelos
deputados nos próximos meses.
Em sua maioria, são projetos que simplificam o processo de divórcio, como o
que permite a separação e o divórcio litigiosos por meio de arbitragem (PL
4019/08). Esses projetos, porém, ainda
são considerados polêmicos e enfrentam a oposição de diversos parlamentares,
principalmente de integrantes de bancadas religiosas ou de frentes de defesa
da vida.
Apesar dessa resistência em alterar a legislação, dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o número de
divórcios tem crescido no País. Isso demonstraria que, mesmo com as
exigências atuais, a população tem buscado formalizar as dissoluções de
casamento.
PEC extingue prazo
Atualmente, para dar entrada no processo de divórcio, é necessário provar a
separação judicial por mais de um ano ou a separação de fato por mais de
dois anos a partir do depoimento de testemunhas.
A PEC 413/05, que foi aprovada em junho pela Câmara, extinguiu esse prazo.
Antes de entrar em vigor, contudo, a proposta ainda precisa ser aprovada no
Senado.
O texto enviado ao Senado é o substitutivo do deputado Joseph Bandeira
(PT-BA) às PECs 413/05, do deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ); e 33/07,
do deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA).
Os três parlamentares são unânimes ao defender a desburocratização do
divórcio. "O tema já está consolidado na sociedade brasileira", diz Biscaia.
Ele argumenta que a legislação atual propicia fraudes, pois qualquer pessoa
pode testemunhar diante do juiz que um casal estava separado de fato há mais
de dois anos.
Joseph Bandeira e Sérgio Barradas Carneiro lembram que a simplificação vai
também baratear o processo de divórcio. Apesar de a Constituição prever o
divórcio direto após dois anos da separação de fato, muitas pessoas entram
com processo de separação judicial. Isso resulta em um novo processo para a
realização do divórcio depois de um ano dessa separação. Assim, é preciso
pagar honorários de advogados duas vezes.
"A maior economia, no entanto, é a dos custos sentimentais. A pessoa que se
divorcia não precisará lidar duas vezes com um assunto que traz dor",
observa Barradas Carneiro.
Voto contrário
A PEC foi aprovada com 315 votos favoráveis, mas também recebeu 88 votos
contrários. O deputado Dr. Talmir (PV-SP) foi um dos que votou
contrariamente e que prometeu atuar no Senado para que a proposta seja
rejeitada.
Em sua opinião, a família deve ser fortalecida como o ambiente de proteção
da criança, da mulher grávida, do idoso, do desempregado e da pessoa com
deficiência. Ele defende a manutenção do prazo para dar entrada no divórcio,
pois esse seria o tempo que o casal teria para pensar sobre a real
necessidade do fim do casamento. "Muitos casais se separam por imaturidade."
Favorável ao divórcio, a advogada e vice-presidente do Instituto Brasileiro
de Direito de Família (IDBFAM), Maria Berenice Dias, afirma que nada impede
que um divorciado se case novamente com a pessoa de quem se separou. O
casamento, lembra, é gratuito e o Estado não deve interferir na vida privada
das pessoas.
"Ninguém precisa dizer por que vai casar. Por que, então, dizer por que vai
separar?", questiona. A mudança, diz Maria Berenice Dias, não comprometerá a
estrutura do Estado nem a moralidade da família brasileira e, além disso,
desafogará os tribunais.
Mudança de comportamento
Em 2007, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou
231.329 dissoluções de casamentos, considerando a soma das separações e dos
divórcios diretos sem recursos. Ao longo dos últimos anos, segundo os dados
do instituto, tem crescido o número de divórcios no País, o que revela uma
mudança de comportamento da sociedade, que passou a aceitar o divórcio com
maior naturalidade e a acessar os serviços de Justiça para formalizar as
dissoluções.
O gerente de Estatísticas Vitais do IBGE, Cláudio Dutra Crespo, considera
que a PEC 413/05, caso seja aprovada também pelo Senado, não vai provocar
aumento das dissoluções de casamento. Segundo ele, pode haver, de fato, um
número maior de divórcios, porque não haverá mais separações.
Já o deputado Joseph Bandeira avalia que a PEC levará a um aumento do número
de casamentos em segundas núpcias, pois muitas pessoas no País esperam
apenas o divórcio para se casar novamente. "A PEC vai regularizar a situação
de milhares de casais que até hoje enfrentam esse obstáculo para regularizar
sua situação."
Continua:
Saiba mais sobre as propostas que alteram as regras de divórcio
Íntegra da proposta:
- PL-4019/2008
- PEC-413/2005
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