A Comissão de Assuntos
Econômicos (CAE) aprovou nesta terça-feira (8) projeto para excluir de
programas da reforma agrária pessoas que vendem os lotes recebidos -
normalmente para lucrar com a operação - e voltam a pleitear nova concessão
de terra. O projeto (PLS
180/03), de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS), propõe a criação
de um cadastro nacional de beneficiários de projetos de reforma agrária e
determina que essa base de dados seja sempre consultada antes da seleção
para cada novo assentamento.
O cadastro deverá ser mantido pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), órgão federal executor do programa federal de
reforma agrária, mas também será abastecido com dados de projetos e
beneficiários de programas implementados por estados, municípios e até pela
iniciativa privada. O Incra deve manter a base de dados atualizada e dar
obrigatória publicidade ao cadastro, até 30 de março de cada ano.
A inobservância às obrigações previstas sujeitará os agentes responsáveis a
processo civil, penal e administrativo. Como foi aprovada na CAE em caráter
terminativo, a proposta deve seguir agora para exame na Câmara dos
Deputados. O projeto foi relatado nessa comissão pelo senador Eduardo
Azeredo (PSDB-MG), que incluiu no texto emenda para que o cadastro contenha
dados geograficamente referenciados, o que visa a facilitar a implantação de
sistema de fiscalização dos assentamentos já previsto na Lei 8.629, de 1993
- que regulamenta a reforma agrária, alvo dos aperfeiçoamentos do projeto de
Delcídio.
Benfeitorias
Essa emenda faz parte de um conjunto de modificações também aprovadas na
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), onde o projeto foi
examinado antes. Uma das alterações, assinada pelo senador Antonio Carlos
Valadares (PSB-SE), visa a tornar ainda mais rigorosa a vedação à
transferência dos lotes, ao especificar que a proibição vale para qualquer
hipótese de alienação (como a venda ou doação), seja da propriedade ou da
posse ou das benfeitorias existentes - o que se aplica ao prazo de dez anos
já estabelecido na lei, onde se prevê exceção apenas para a transferência
por herança.
Com aperfeiçoamento do relator, outra sugestão de Valadares tem por
finalidade assegurar ao Incra o direito imediato sobre a posse do imóvel
quando os beneficiários infringirem as normas. Do mesmo parlamentar, foi
aproveitada ainda proposta no sentido de garantir ao órgão a preferência na
aquisição do lote após findar o prazo de dez anos de vedação da
transferência, caso assim decida o beneficiário. O Incra poderá exercer a
preferência, mas nas mesmas condições de proposta feita por particulares.
O relator observa que a venda de lotes da reforma agrária é feita por uma
minoria, mas disse concordar com o autor do projeto quanto à necessidade de
inibir a "prática criminosa". Durante o debate, diversos senadores elogiaram
a iniciativa da proposição, entre os quais Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Segundo
ele, a matéria contribui para o fim da "profissionalização do sem-terra",
como se referiu a pessoas que migram de um assentamento a outro, em busca de
seguidas concessões.
Programação monetária
Ainda na reunião, os senadores apoiaram a sugestão do presidente do
colegiado, senador Aloizio Mercadante, para o adiamento do exame de proposta
(MSF 77 e 78/07) relativa a programação monetária para o segundo trimestre
de 2007, juntamente com a projeção para o ano. Mercadante justificou que, de
acordo com decisão anterior, a CAE deverá aproveitar a tramitação regular
dessa matéria para debater com o Banco Central a condução da política
monetária.
|