Artigo - "Sorte de quem não precisa ir à Justiça!"

O presidente do STJ, ministro Edson Vidigal, reconheceu que tem "pena de quem vai depender, no Brasil, de ter os seus direitos reconhecidos por uma decisão judicial". Ele justifica: "demora para caramba". A reflexão do ministro sobre o Judiciário brasileiro chega a ser frustrante vinda de sua posição, pois bate de frente com o ideal do Poder. "Essa Justiça que está sendo feita é uma Justiça muito injusta".

O ministro afirmou que "a morosidade é produto de um conluio", em entrevista ao jornal O Povo (Ceará), no último dia 28. Por trás da imagem de lentidão do Judiciário no País, explica que há uma "infinidade de recursos" que acabam por prolongar os processos, associados à ação dos operadores do Direito. "Os advogados, os membros do Ministério Público e os magistrados já estão praticamente viciados nesse trabalho, na cultura do recurso. Acaba sendo bom para todo mundo, do ponto de vista do comodismo".

Perguntado sobre uma possível solução para a morosidade, ele cutucou, dizendo ser necessário criar uma consciência da indignação no País, mesmo nas pessoas que ainda não têm demanda judicial. "É sorte de quem não precisou ir à Justiça". Ponderou sobre os prejuízos causados àqueles que precisam ter seus direitos reconhecidos rapidamente e foi contundente: "é preciso que a gente fique batendo nisso".

A voz de Vidigal é dissonante em meio aos colegas e o ministro bem sabe disso. "Eu sei que tem magistrado aí que anda aborrecido comigo, porque eu falo essas coisas". Mas não deixa de alertar e avisa que tem ser insistente. "É preciso que a gente continue batendo nessa coisa da morosidade, porque isso há de ser uma bandeira comum de todo o povo brasileiro". Ele sugere que se pressione os congressistas e os estudiosos do Direito Processual.

No mesmo tom,  Edson Vidigal faz duras críticas a questões como o segredo de Justiça e o direito à informação da sociedade. Para ele, com exceção do respeito à privacidade e a interesse público, não há porque as demais denúncias, inclusive envolvendo membros do Judiciário, ficarem no "mais profundo segredo".

Leia em www.espacovital.com.br a íntegra da entrevista.


Fonte: Jornal do Comércio, Porto Alegre, Coluna Espaço Vital - 05, 06 e 07/11/2004