Lembro-me de me ter encontrado várias vezes com o notário Braz nestas minhas
deambulações institucionais.
Nunca nos cruzávamos sem um forte abraço, sem uma delicada mesura que, no
meu caso, significava falar dos pequenos, da vida atribulada de São Paulo,
das gigantescas batalhas que travamos no dia a dia.
Ele via meus filhos como se fossem rebentos serôdios. “Pai avoado”, dizia.
Acho que foi ele que me revelou esta deliciosa expressão.
Pai avoado, mistura inusitada de pai e avô. Gostei ainda mais da expressão
por conotar um descolamento das coisas mais prosaicas, de elementos que nos
tingem de pó e cinzas e que afinal nos dão o exato sentido de nossa
humanidade.
Mas os homens sonham que voam! Sentem nostalgia das estrelas!
Braz era um homem admirado e respeitado pelos seus pares.
Nesta vida, sabemos de tantas coisas que não necessitem ser ditas. Era assim
com ele. Nunca soube um só detalhe de sua trajetória pessoal; nada de sua
notaria, de como era visto por seus utentes, de como vivia na sua
comunidade. Mas sabia que Braz era respeitado e admirado por todos.
Certas coisas não precisam ser formalmente declaradas.
Encontrei-me algumas vezes com Braz. Foram encontros fugazes, casuais,
inesperados, alegres, confiados. Sei que os encontros casuais guardam um
segredo que só aos iniciados é revelado. Assim é a vida.
Saúdo a partida do grande notário. Será também uma gloriosa chegada - uma
estação encravada nalgum ponto entre as estrelas.
Boa viagem, amigo!
Publicado por: Sérgio Jacomino
Fonte:Site Registradores.org.br
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