Somente na Capital, estima-se que 43.700 crianças matriculadas em escolas
públicas não tenham o nome do pai em seus documentos. Para reverter essa
situação e cumprir o direito de saber sua origem, a Secretaria de Estado de
Saúde (SES-MG) e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) assinaram,
ontem, Acordo de Cooperação Técnica e Financeira. O objetivo é custear e
apoiar o programa de realização de exames de DNA em ações judiciais
amparadas pela assistência judiciária, visando à investigação de paternidade
(Programa Pai Presente). Serão aplicados R$ 1,8 milhão em recursos do
Tesouro Estadual.
"Essa é uma agenda do setor de saúde que, enquanto política social, visa
proporcionar não só os direitos estabelecidos constitucionalmente, mas
também o bem estar das pessoas. Sem dúvida, o reconhecimento da paternidade
está entre esses preceitos e estamos satisfeitos em participar de iniciativa
desse nível de alcance social", avaliou o secretário de Estado de Saúde,
Antônio Jorge de Souza Marques.
O secretário reiterou que esta é mais uma parceria entre as instituições, o
que é exemplo da convivência harmoniosa e colaborativa entre os poderes
Executivo e Judiciário, reafirmando o princípio republicano em Minas.
Assinaram o termo, além do secretário Antônio Jorge e do presidente do TJMG,
desembargador Cláudio Costa, os gestores do projeto Pai Presente, os juízes
Newton Teixeira de Carvalho e Fernando Humberto dos Santos, juízes titulares
da 1ª Vara de Família e da Vara de Registros Públicos da Capital,
respectivamente. O programa é coordenado pelo desembargador Reynaldo
Portanova.
Trajetória
O presidente do TJMG, desembargador Cláudio Costa, relembrou que, em abril
de 2009, o Tribunal lançou o projeto Pai Presente, com o objetivo de
imprimir celeridade à realização de exames de DNA nos processos de
paternidade e maternidade sob o amparo da justiça gratuita. "Esse projeto se
tornou modelo nacional para o Conselho Nacional de Justiça", afirmou.
A implementação do programa só foi possível graças ao convênio de cooperação
técnico-financeira firmado entre o TJMG e a SES, que, por sua vez, permitiu
a celebração de um contrato entre o TJMG e o Núcleo de Ações e Pesquisa em
Apoio Diagnóstico (Nupad), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
Um balanço dos exames realizados no período de maio de 2009 a maio de 2011
confirma a expectativa otimista em relação ao Projeto: 7.656 exames
realizados.
São expressivos os resultados obtidos nesses dois anos de trabalho conjunto.
Dentre eles, merecem registro o término da fila para os atendimentos, o
agendamento de 550 exames/mês até junho de 2011 e, ainda, o grau de
satisfação dos magistrados com a agilidade do atendimento, com a precisão
dos resultados, com as respostas aos quesitos e com a facilidade de coletas
no interior.
Novidade
O convênio também vai atender outra demanda, no caso a realização dos exames
de DNApara atendimento das investigações por via administrativa, ou seja,
não da forma litigiosa, conforme já estabelece a Lei Federal 8.560, de 29 de
dezembro de 1992.
"Nós temos o cadastro dessas crianças da Capital que não têm o registro e
vamos tentar localizar as pessoas envolvidas para que seja feita a
investigação. A lei estabelece que toda vez que uma mãe for a um cartório e
registrar a criança apenas com seu nome, esse estabelecimento vai notificar
o juiz para instaurar o processo de forma administrativa. Existem casos em
que o pai reconhece seu filho de forma voluntária, sem exame. Em outras
situações, só é possível concluir o processo com a realização do exame de
DNA", explica o juiz da 1ª Vara de Registros Públicos da Capital, Fernando
Humberto dos Santos, um dos coordenadores do projeto.
Ainda de acordo com o magistrado, só no ano passado foram feitos dois mil
reconhecimentos administrativos de paternidade, muitos deles sem a
realização do exame. "Esperamos cobrir pelo menos 60% desse universo de 43
mil crianças em BH sem a paternidade reconhecida", apontou o juiz.
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