Convênio no processo de reconhecimento deve
triplicar o número de exames de paternidade na capital
Pedro Rotterdan
Mais de 43 mil alunos de escolas públicas
municipais e estaduais de Belo Horizonte, com idade entre zero e 17 anos,
não sabem quem são seus pais, segundo dados da Vara de Serviços Públicos do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Visando descobrir a paternidade
dessas crianças e adolescentes, a Vara foi incluída no convênio do TJ com a
Secretaria de Estado de Saúde (SES), renovado nesta quarta-feira (29), que
prevê o investimento de R$ 1,8 milhão para realização de exames de DNA.
Processos de reconhecimento de
paternidade
se amontoam na Justiça
Antes, o recurso era destinado apenas à Vara
de Família, mas agora vai ser dividido entre as seções, o que causa
apreensão aos juízes das duas varas, que temem demora nos processos e falta
de verba. Por ano, eram realizados cerca de 7.800 exames de paternidade. Com
a inclusão da Vara de Serviços Públicos, esse número deve chegar a 25 mil.
Com o aumento da demanda, o juiz Nilton Teixeira de Carvalho, da 1ª Vara de
Família, afirma que atrasos vão atrapalhar o andamento dos processos. “Hoje,
os prazos estão tranquilos. Estamos cumprindo os pedidos sem problema. Agora
que vão surgir novos pedidos, tanto a nossa vara quando a de Serviços
Públicos vão sofrer atrasos significativos”. O receio do se deve ao fato de
que caso os pais não aceitem a paternidade de forma espontânea, os processos
saem da Vara de Serviço Público e caem na Vara de Família.
O juiz da Vara de Serviços Públicos de Belo Horizonte, Fernando Humberto dos
Santos, concorda que a demora realmente possa acontecer, mas também
considera importante que esses alunos saibam quem são seus pais. “Às vezes,
fica desconfortável para a pessoa não saber o nome do pai. Vamos ir atrás
das mães para saber porque elas registraram os filhos sozinhas”, disse.
Ele também aposta que os pais aceitem assumir o filho, desde que tenham
certeza da paternidade, sem que um processo seja iniciado. “Se o homem
recusar três vezes fazer o exame de DNA, ele é considerado responsável pela
criança. Então se ele tiver certeza que é pai, vai assumir a criança”,
afirma. Nilton Teixeira também torce para que os pais aceitem a paternidade
de forma natural. “Somente desta maneira o trabalho poderá ser agilizado”,
enfatiza.
Para que esse acordo seja feito sem um processo judicial, em agosto deste
ano, a Vara de Serviços Públicos vai procurar as famílias desses alunos para
saberem porque eles estão registrados sem um pai.
A outra preocupação dos magistrados é com a possibilidade da verba acabar
antes do fim do convênio, que é de dois anos. “Sem dúvida que vai faltar
dinheiro. Esse total era investido apenas em uma área”, afirmou Humberto
Santos.
Mas o secretário de Saúde de Minas Gerais, Antônio Jorge Marques, afirma que
caso o recurso disponibilizado acabe, existe uma reserva para ser repassada.
Ele lembra que esse novo repasse seria interessante já que se trata de um
assunto extremamente importante.
“Esta é uma agenda do setor de saúde que, enquanto política social, visa
proporcionar não só os direitos estabelecidos constitucionalmente, mas
também o bem-estar das pessoas. Sem dúvida, o reconhecimento da paternidade
está entre estes preceitos e estamos satisfeitos em participar de uma
iniciativa deste nível de alcance social”, disse.
Para Nilton Carvalho, seria mais interessante que esse contrato fosse
rescindido e, em seguida, assinado outro que prevê aumento na verba. “Se
somente com o aumento das demandas, os pedidos de paternidade ficariam
atrasados, imagina sem dinheiro. Mesmo uma verba adicional não faria
efeito”, concluiu.
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