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17/09/2013

Nos EUA, invasões põem em xeque sistemas de transações imobiliárias

Em 16 de março, um hacker usando o pseudônimo Ian Dawtnapster invadiu o sistema de computadores de uma empresa imobiliária dos Estados Unidos e baixou dele uma série de formulários em branco de propostas de compra e venda de moradias. O invasor fez isso entrando em um fórum on-line de compartilhamento de documentos administrado para a imobiliária pela Dotloop, uma empresa iniciante de Cincinnati que tenta facilitar a vida dos consumidores nesse tipo de transação. 

Logo após o incidente, segundo afirma a Dotloop, duas organizações imobiliárias que detêm os direitos autorais dos formulários exigiram que a Dotloop retirasse os documentos de seus servidores. A Dotloop diz ter atendido às solicitações da California Association of Realtors (CAR) e da Northwest Multiple Listing Service (NMLS). Em seguida, entrou com um recurso em uma corte federal do Norte da Califórnia, tentando fazer com que a corte intimasse judicialmente a CAR e o Google, para que eles vasculhassem e-mails que pudessem revelar a identidade do vândalo cibernético. 

A porta-voz da CAR, Lotus Lou, diz que o grupo não teve nada a ver com a invasão e não é acusada em nenhum litígio, e pediu à justiça que indeferisse o pedido de intimação. Em 27 de agosto, uma corte concedeu à Dotloop autoridade para intimar a CAR, a NMLS e o Google, entre outras empresas. 

A disputa mostra as tensões existentes entre as novatas da internet e os fundamentos do setor imobiliário. Apesar da ascensão de companhias como a Zillow e a Trulia, que colocam listagens de moradias à venda na internet, o lado econômico da compra e venda de casas continua em grande parte inalterado no setor imobiliário. Os negócios demoram semanas para serem concluídos e os custos de fechamento dos contratos chegam à casa de milhares de dólares; geralmente, os vendedores pagam a considerável comissão de 5% para os agentes imobiliários. 

A Dotloop pretende acelerar um dos aspectos do processo de compra de imóveis: a enorme papelada exigida na realização de transações imobiliárias. Criada há quatro anos, essa empresa permite aos corretores, compradores, vendedores, financiadores e cartórios colaborar, negociar e assinar documentos eletronicamente nos fóruns on-line privados. 

A companhia, que recentemente abriu um escritório em San Francisco, diz que 700 mil corretores imobiliários pagam cerca de US$ 20 por ano para usar seu serviço baseado na nuvem da computação. “Há uma bela rede de “compadres” que manda no setor imobiliário residencial, e na medida em que crescemos, essa rede fica cada vez maior”, diz Austin Allison, o diretor-presidente de 28 anos da Dotloop, um ex-corretor de imóveis que vendeu sua primeira casa aos 17 anos. 

Os agentes imobiliários da Califórnia precisam ser licenciados pela CAR, que opera seu próprio sistema de compartilhamento de documentos ZipLogix Digital Ink, que visa lucros. A CAR também distribui os contratos imobiliários que são um padrão do setor no Estado. 

O acesso a esses documentos é um grande incentivo para que os corretores paguem a taxa anual de US$ 115 cobrada pela CAR. A associação diz que monitorou a Dotloop para se certificar de que seus documentos não foram baixados ilicitamente para o serviço, para proteger os consumidores de falsificações e fraudes financeiras. 

Brad Inman, dono do noticiário “Inman News”, da área imobiliária, diz que os temores com a segurança têm fundamento, pois muitas fraudes acontecem em operações de compra de moradias. Ele também diz que organizações como a CAR “realmente não querem que a Dotloop entre no processo”. 

Em documentos legais, a Dotloop alega que a NMLS – na qual ninguém foi localizado para comentar o assunto – identificou formulários mantidos na Dotloop. A existência desses documentos não teria sido comprovada se não fossem as informações passadas por Ian Dawtnapster. (A Dotloop não policia ativamente sua rede para conferir o material protegido por direitos autorais, mas retira qualquer documento protegido quando alertada.) 

Em uma investigação própria, a Dotloop diz ter descoberto que um usuário, com endereço de IP e ligado a sistemas de computadores operados pela CAR, entrou em seu sistema apenas quatro minutos depois do intruso. A CAR nega ter conhecimento de tal intrusão. (Tradução de Mário Zamarian)


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