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19/08/2013

Globo Repórter: Pai solteiro adota menino e consegue na Justiça uma licença que só é dada às mulheres

E pra você? O que é uma família? A considerada tradicional é aquela que tem pai, mãe e filhos. Agora, e se também tiver filhos adotivos? Ou se forem duas mães e nenhum pai. Dois pais e nenhuma mãe. E quando tem um mundo de agregados, como sogro, sogra, avós, cunhados? E a família em que o casal, marido e mulher, mora em casas separadas. E se já moraram, se separaram, e hoje são melhores amigos. E quem decide simplesmente não ter filhos, mas tem um monte de afilhados? Família. Há quem diga que é tudo igual. Mas que está meio diferente, ah, isso anda. 

De uma família numerosa para outra bem miúda. Ricardo tinha 27 anos quando decidiu ser pai. Apesar da resistência da própria mãe e até de alguns amigos, ele insistiu. Ia adotar uma criança. Foi assim que o José Eduardo entrou na vida dele. 

Solteiro e pai do José. Adotar foi fácil, mas para se adaptar à nova vida de pai, à sua nova família, o Ricardo precisou brigar na Justiça. 

Advogado, professor e analista do INSS. Foi se valendo da condição de funcionário público que Ricardo entrou com um processo administrativo para conseguir um benefício a que só as funcionárias têm direito.

Licença maternidade de 90 dias após a adoção, como diz o Estatuto do Servidor Público Federal. 

“Se um pai adota tem direito a cinco dias. Qual a diferença sexual nesse momento? Nenhuma. São 2 pessoas, homem e mulher, que estão agora acolhendo em sua vida uma criança”, afirma Ricardo Sampaio, advogado.   

Só depois de dois anos, a Justiça deu uma sentença favorável. Uma vitória, mas que foi comemorada parcialmente. 

“Foi importante, foi interessante, pra nossa convivência, fortalece os laços, mas eu ressinto que deveria ter sido na chegada, a chegada é um impacto. A chegada é um susto”, destaca Ricardo. 

O José Eduardo tem agora seis anos. Finge ser tímido, mas não é mesmo. Ele mostra o quarto, o armário, os brinquedos. O quadro que fez sobre a família dele. 

Globo Repórter: esse aqui quem é?

José Eduardo Sampaio, 6 anos: eu.


Globo Repórter: E esse aqui?

José Eduardo: meu pai, a borboleta, abelha, os passarinhos, a nuvem e o sol.

 

A figura feminina mais presente é a Marlene. Ela já sabia que ia trabalhar na casa de um pai solteiro, quando deixou o interior e veio para Salvador.

 

Globo Repórter: te causou um certo estranhamento?

Marlene dos Reis, babá: é, mas eu botei a cabeça no lugar e disse: ‘acontece’.

 

Globo Repórter: e hoje você acha que é normal?

Marlene: é normal, é normal. A gente tem uma vida normal.


Globo Repórter: e você participa muito?

Marlene: participo, 24 horas.

 

O pai, o filho e uma figura materna. A família chamada monoparental: com a mãe: é bem mais comum. Por isso é tão importante o convite da psicanalista da Universidade de São Paulo.

   

“A gente não pode ter a priori nenhum preconceito em relação a nenhum arranjo familiar. Porque cada arranjo pode ser vivido de muitas formas, significado de muitas formas, e é preciso ver em cada caso como isso está sendo trabalhado, como as crianças estão sendo cuidadas”, afirma Belinda Mandelbaum, psicanalista da USP.

 

Uma rotina. A lição de casa, o almoço, o botar o uniforme da escola. Agora, depois da aula. Aí é um privilégio: a orla de Salvador.

 

“É o meu projeto de vida. Eu não sei se eu seria feliz no contexto de um casamento, mas eu sei que eu sou plenamente feliz nessa convivência com meu filho. Eu precisava ser pai nessa existência. Eu tive um grande pai, Zileide. Hoje eu sei o grande pai que eu tive e eu não podia perder a oportunidade de transmitir ao meu filho aquilo que eu recebi do meu pai”, diz Ricardo.

 

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