Programa para financiar regularização de imóveis

O Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (IRIB) vai propor ao governo federal a criação de um programa de microcrédito destinado a financiar a regularização de imóveis para famílias de baixa renda. O objetivo é ajudar a tirar da informalidade milhões de proprietários de imóveis não-registrados, a exemplo daqueles localizados em favelas já consolidadas. Surgida a partir de um workshop realizado ontem em Brasília, a proposta deverá ser apresentada ao Ministério das Cidades até o final de novembro, anunciou o presidente do IRIB, Sérgio Jacomino.
Como no resto da América Latina, a propriedade não-formal, sobretudo de imóveis residenciais de pequeno valor, é um fenômeno de grandes proporções no Brasil. Segundo o vice-presidente do IRIB/RS, João Pedro Lamana Paiva, a estimativa é de que cerca de 50% dos imóveis residenciais não tenham registro ou estejam com registro desatualizado. É comum pessoas comprarem imóveis, muitas vezes com escritura e tudo, mas, por motivos diversos, não finalizarem a operação no cartório de registro de imóveis, embora isso seja imprescindível para se ter legalmente a propriedade. Só o registro assegura a propriedade, destacaram Paiva e Jacomino.
Uma das razões que leva as pessoas a não buscar o registro é o custo. Embora as taxas cobradas no Brasil sejam consideradas baixas em relação a muitos outros países, o baixo padrão de renda das pessoas e o fato de que é preciso pagar à vista acabam estimulando a informalidade das transações imobiliárias,avalia Ruy Rebello Pinho, oficial do 2 Cartório de Registro de Osasco (SP), autor da proposta encampada pelo presidente do IRIB sobre a criação de um programa específico de microcrédito. Se governo articular com os bancos a criação de linhas com juros acessíveis para financiar os custos envolvidos, de forma que eles possam ser diluídos no tempo, Rebello Pinho acredita que será possível fazer com sucesso uma grande campanha nacional de regularização de propriedades.
O Workshop promovido pelo IRIB, que ocorreu em paralelo ao Fórum Internacional do Microcrédito, contou com a presença de Fernando Mendes González, presidente do Colégio de Registradores da Espanha. Ele defendeu que, como em outros países, no Brasil, o governo promova um grande programa de regularização de propriedades imobiliárias, como forma de facilitar o acesso das famílias ao crédito bancário. " Esta é uma ferramenta poderosa para se promover o acesso ao crédito " , disse González. A principal função econômica do registro de imóveis (o tema do workshop), explicou, é justamente garantir que ele possa ser usado como garantia em operações de empréstimos e financiamentos.
Ele admitiu que, dependendo da forma como for feita, a regularização em massa de imóveis irregulares pode gerar efeitos colaterais negativos, como o estímulo à ocupação ilegal de terras públicas ou mesmo privadas. Mas, na sua opinião, esse é um risco que pode ser muito bem contornado na regulamentação da matéria. " É necessário que um programa de regularização seja seletivo. " O que se busca, diz, não é legitimar atos ilegais mas reconhecer a propriedade de famílias que detêm imóveis. Por isso, defendeu que o governo deve fazer é um programa de formalização e não de legalização.


Fonte: Site da ANOREG-BR - 07/10/2003