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Nove cartórios ligados à Associação dos
Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR) fecharam acordo com o
Banco do Brasil (BB) para atuar como correspondente bancário da
instituição. É um projeto piloto que, se bem sucedido, pode ser
estendido a todos 21 mil cartórios do país, criando a maior rede de
correspondentes bancários do Brasil. A rede de lotéricas que atuam como
correspondentes da Caixa Econômica Federal soma 9 mil pontos; e a dos
Correios que fazem parte do Banco Postal do Bradesco, quase 6 mil.
Bacellar, presidente da Anoreg-BR: "É preciso volume para valer a pena"
O desempenho da parceria, iniciada em unidades dos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco,
Piauí, Ceará e na cidade de Brasília, será avaliado durante 90 dias. Se
o resultado for positivo, a experiência será paulatinamente ampliada,
informou o presidente da Anoreg-BR, Rogério Portugal Bacellar, que
desenvolve a parceria há cerca de três anos. Outros bancos também podem
ser agregados ao projeto. O único requisito, disse Bacellar, "é todos
falarem a mesma linguagem".
O gerente executivo do BB, Cícero Przendsiuk, informou que o projeto
prevê que os cartórios farão, inicialmente, operações ligadas a seus
próprios serviços como o recebimento de impostos e taxas, além do
pagamento de títulos, benefícios e o saque em conta corrente. "A
principal vantagem é oferecer maior conforto ao cliente que poderá fazer
a liquidação bancária dos serviços no próprio cartório", afirmou
Przendsiuk.
Em um segundo momento, outros produtos e serviços serão agregados.
"Poderemos vir a financiar até o pagamento de alguns impostos elevados,
como o ITBI", acrescentou.
O gerente do BB, que tem 1,8 mil outros pontos de atendimento em
correspondentes bancários, afirmou que a extensão da da rede de
cartórios no país é um dos principais atrativos da parceria. "É uma rede
com uma capilaridade fantástica, que opera em um horário mais amplo do
que os bancos e com grande sinergia", explicou.
Assim como os outros correspondentes bancários, os cartórios vão ganhar
tarifas fixas pelas operações realizadas. A receita vai variar,
portanto, conforme o número de transações. "Se não tiver volume não vale
a pena", disse Bacellar. Nas lotéricas, metade do faturamento já vem dos
serviços bancários.
Essa não é a primeira incursão dos cartórios na área financeira.
Bacellar contou que os cartórios já criaram cooperativas de crédito no
Paraná, ligada à Sicredi, e no Rio Grande do Sul, ligada ao Bradesco, e
estão montando as de São Paulo e Minas Gerais. As cooperativas fornecem
crédito a juros mais baixos para funcionários dos cartórios e aos
próprios cartórios.
A Anoreg-BR vem liderando iniciativas para apagar a imagem de
anacronismo e imobilismo dos cartórios. Uma delas é o Cartório 24 Horas,
que já existe em 17 estados e permite às pessoas solicitar documentos
pela internet e recebê-los em casa, pelos Correios.
Foi criado um serviço de Certificação Digital da Anoreg-BR, que
viabiliza a geração de documentos digitais com fé pública que podem ser
enviados para diferentes partes do país, também pela internet, por meio
de 500 cartórios participantes.
A Anoreg-BR está desenvolvendo projeto de interligação de dados com o
governo federal que permitirá a troca de informações de forma imediata,
entre os diferentes poderes que, segundo Bacellar, dará "apoio às
políticas públicas", com informações úteis para alimentar as
estatísticas do IBGE, INSS, Receita Federal e Justiça Eleitoral. Além
disso, discute com a Associação dos Magistrados do Brasil a
possibilidade de os cartórios realizarem a mediação de conflitos para
desafogar os Juizados Especiais.
Jornal Valor Econômico - SP
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